quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Mãe Gandaresa...

Despida do adorno ardente
Que só por festas usava,
Quando a sorte lhe prendava
Algum metal mais luzente:
Sua beleza aparente.
Outra maior vem do fundo
Do seu amor que enche o mundo
E que só ela detém:
Beleza do amor profundo,
Beleza só desta MÃE!...
Pele tisnada pela aragem,
Mãos grossas, dos muitos calos
Que a enchada e seus abalos
Lhe brindavam pela coragem.
Retenho, ainda, esta imagem:
Pés descalços, nus, gretados,
P’lo frio e geada ornados;
Lenço negro nos cabelos;
Mas estes, se desatados,
Em trança, ao vento, que belos!...
No coração, um espinho
P’lo filho que se lhe ausenta;
Já, no seu peito, um carinho
Ao filho que amamenta;
A segurança, no braço
Do filho que leva, em mão,
E, no seu ventre-regaço,
Outro filho, em gestação,
Que consagra, em oração,
Ao seu Deus em cada passo.
És MÃE a cada momento;
Pai e mãe, por mais que um dia,
Pois que moureja, na Ria,
O amor do teu pensamento.
Fazes gala ao sofrimento,
Enfrentas sua rudeza;
Do teu suor, fazes pão
Repartido, à tua mesa.
Grande e nobre coração
És tu, ó MÃE GANDARESA!...”
Dr Luís Ventura de Pinho

Arquivo do blogue