quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Queres ler o que eu escrevi há muito tempo? Já tem uns anos mas parece estar atual...

"Queridos filhos
Conheço-vos a todos muito melhor do que vós me conheceis a mim. Não fosse eu vosso pai e, como responsável que sou, não vos tivesse acompanhado desde pequeninos, desde que do ventre de vossa mãe saístes. Vi-vos crescer! Observei as vossas quedas sem as valorizar e deleitei-me com os vossos triunfos e sucessos! Aí sim! De peito orgulhosamente inchado pelos vossos sucessos, a todos e por todo o lado apregoei os vossos feitos! Onde não cheguei, mandei recado.
Que orgulho sinto em ouvir falar dos filhos do Seixo! Que vaidade me inunda a alma! Feliz daquele que tal prole deu ao mundo (modéstia à parte, mas o orgulho também deve ser cultivado, não achais?).
De há muito a esta parte, as minhas roupagens têm sido substituídas, acabaram-me com os remendos e deram-me farpela nova. Mas que gosto puseram na escolha! Que felizes foram as combinações de cores dessa farpela! Lembro-vos as roupagens de que me vestiram as fontes de Riba, da Meneza, da Barroca! Lembro o Parque de Merendas, no pinhal de S. João “da Pinta” como alguns (não sei se com brio se com desdém!) afirmam (jocosamente?) Lembro-vos o moinho do Daniel que tanta graça dá ao espaço onde foi colocado. Orgulho-me do sector social, tão rico e juntinho, que começa ali mesmo na baleira da Bruxa, e se estende até ao referido Parque de Merendas, incluindo os campos para a prática do desporto que tanto amais, a Base dos Escuteiros, a Cercimira, o Centro de Dia e o Lar para os meus mais velhos. Apraz-me sobremaneira referir também o Salão Paroquial, embora esteja triste por estar a ver definhar a minha juventude (que raio, tenho idade mas não sou velho!) donde tantas alegrias me vêm à memória. Pena também que me tenham roubado a minha Igreja Velha e nenhum de vós tenha arrecadado os objectos mais valiosos que na mesma se acoitavam.
Quantas alegrias me tendes dado, meus filhos!
Fostes educados para serdes Homens e Mulheres que se mostram preocupados com a sua terra, as suas gentes, a sua cultura e vivência social, cultural e recreativa.
Fostes educados para serdes gente altruísta, alegre, amigável, com o seu quê de aventureiros, afáveis, activos e afectuosos que vibram com os acontecimentos em que são intervenientes ou que ocorrem ao seu lado!
Fostes educados para serdes Gente bondosa, benevolente e com bravura suficiente para concretizar ideias e atingir ideais!
Fostes educados para serdes Gente com curiosidade que baste, crente nas suas capacidades, assertiva, suficientemente calma, comunicativa e compreensiva, caridosa e carinhosa, compreensiva e caprichosa dos seus saberes;
Fostes educados para serdes Gente desenrascada, determinada, divertida! Gente educada, empenhada, extrovertida e equilibrada, entusiasta, continuamente esforçada, eficiente, exigente consigo própria, empreendedora!
Fostes educados para serdes gente que fala, gente fugaz, gente feliz, franca e fiel! Gente generosa e aguerrida! Honesta e humilde! Gente inteligente, intuitiva, justa, leal e livre!
Gente meiga e maternal.
Possuis o seu quê de nostalgia mas sois optimistas e orgulhosos do vosso valor, das vossas qualidades e capacidades!
Sois gente profundamente prudente e persistente que se preocupa e pacientemente pondera cada acção e objectivo a atingir! Gente racional, receptiva á colaboração e extremamente responsável embora simples, sensível sociável e sensata!
Sois sabedores, tenazes e unidos, capazes de se juntar na prossecução do mesmo objectivo! Sois voluntariosos no auge das vossas vidas e extremamente zelosos.
Fostes educados para encarardes o hoje como futuro do Ontem, querendo construir e criar as melhores condições de vida para os nossos vindouros! Há muitos erros a cometer!
Não há necessidade de repetí-los! Sois audazes ao ponto de não temerdes encarar novas situações que vos levem a encontrar soluções para eventuais factos inesperados!
Fostes educados para vos aceitardes exactamente como sois, valorizando as qualidades e lutando por suprimir eventuais defeitos.
Estais disponíveis e sabeis servir para servir!
Viveis a felicidade fazendo os outros felizes!
Enriqueceis dando! Dai-vos sem medida, amais e sois parte integrante da Gândara, terra que vos viu nascer e vos espera abraçar um dia.
Todos os habitantes e filhos doutras terras em redor (e nem só!) gostam de ouvir falar e falam de mim, de vós, filhos do Seixo, com um tiquinho de inveja por de cá não serem!
Tenho pena que os meus netos do Poente não se tenham organizado para se misturarem orgulhosamente com as suas raízes!
Mas fostes educados na liberdade, responsabilidade e respeito. Respeito por vós próprios e pelos outros. Assim mesmo é que é.
Não fecheis nunca a porta a ninguém! Bani do vosso vocabulário, se possível, a palavra “não”. Mantende-vos de mangas arregaçadas prontos para continuar a dar exemplo, a servir de exemplo. Mas deixai que aflore o motivo que me levou a escrever-vos assim, desassombradamente.
Alguns de vós moirejastes nos Alentejos, outros foram “a salto” para as Franças, esventrastes o leito da ria roubando-lhe o moliço, aventurastes a vida nos mares gélidos da Gronelândia, navegando ao “Deus dará” em busca do bacalhau. Tisnastes, de sol a sol, nas olarias no fabrico de adobes. De sol a sol destes cabo dalguns cabos de enxadas de cem mil reis, depois de uma simples refeição feita com um rabo de sardinha salgada e um naco de broa, já com fios… Fostes capazes de chorar amargamente e ultrapassar, mas sempre de cabeça erguida, os dissabores com que a vida vos presenteou sem desanimar e voltando ao princípio, tomando balanço para ir mais além. E eu, orgulhoso, a ver como vos saíeis! Respeitei sempre o vosso espaço. Admirei sempre a vossa coragem e convicção.
Os mais velhos de entre vós souberam viver e comportar-se de forma exemplar. A sociedade por vós formada está perfeitamente equilibrada. Todos e cada um de vós é especialista nos trabalhos que realiza e responsável pelos atos praticados.
Ouvi dizer que, gente de fora, a coberto de opiniões de um ou outro dos vossos irmãos vos tem andado a tentar influenciar, pintando-vos quadros irreais, prometendo-vos mundos e fundos e garantindo-vos que será tudo em meu benefício.
Desconfiai!
Sereis capazes de me indicar um só de vós que tenha singrado com o que os outros lhe prometem ou dão? Não acredito que tal exista pois os meus filhos não são parasitas. Abominam essa qualidade defeituosa. E todo aquele que assim vos aborda mais não quer que criar divisões entre vós! Iludir-vos! Governar-se á vossa e minha custa!
Estai atentos. A vossa juventude é sinal de pujança, honradez, capacidade, vontade própria e responsabilidade.
Não deveis viver isolados mas não permitais que vos comam por lorpas!
Deixai que me dirija momentaneamente ao meu mais novo, o meu Benjamim (a quem carinhosamente quero apelidar de Timbiau).
Foste criado em berço de ouro e apaparicado em todos os momentos da tua vida. Quero continuar a não valorizar os teus deslizes mas não ficaria de bem comigo se te não alertasse e contigo os abordasse para depois… os esquecer.
Até ao fim dos meus dias quero continuar a agir assim e luto por uma vida longa (os trezentos e tal anos não me carregam ainda!). Respeita teus irmãos mais velhos. Não cuides que tudo te irá sorrir e que a mesa vai estar sempre posta para dela tirares partido. Quando menos esperares terás que cultivar tu próprio os bens essenciais para, com cunho exclusivamente teu, realizar obra digna de mim. Cultiva constantemente desejos de dignidade e respeito. Ouve tudo e todos mas toma as tuas decisões ponderando benesses e custos. Os filhos do Seixo são assim. Lembra-te da herança dos mais velhos e dos trabalhos que realizaram. Recorda e respeita a obra do Joferal, do Joferil, do Lupema, do Lupeal, do Alpeau, do Alaubi e de tantos outros que me proibiram de os nomear (dizem que o que fizeram o fizeram porque era necessário não para disso se vangloriarem!).
Gostava que estivesses sempre um passo à frente em busca de soluções para os problemas que me afligem e aos meus filhos.
Mantem-te firme na convicção de que nem todos os que te dão palmadinhas nas costas estão contigo ou te querem ajudar na prossecução dos teus objetivos.
Lembra-te da história do velho, dos filhos e do molho de vimes finos.
Respeita sempre o trabalho dos outros. Pensa pela tua própria cabeça. Olha que toda a água, por mais turba que pareça, tem em si a limpidez que permite observar o que se logra esconder, logo que se deixa de revolver!
Cultiva a personalidade e, nunca, por nunca ser, deixes de aprender algo de novo antes que o novo dia termine.
Amealhar e esbanjar são dois verbos que, em comum, só têm os tempos e a terminação. Com certeza que não te vão pedir contas dos teus atos, mas faz por estar sempre preparado para as apresentar clara e desafrontadamente quando os outros as pensarem em ver. Antecipa-te também aí!
“Ai, basta de sermões” - dir-me-ás.
Pois bem. Acedo á tua petição. Mas ainda te digo mais esta, meu querido Timbiau (não me levas a mal mas o carinho que nutro por meus filhos, permite-me que os trate com muito afeto, como bem entendo e na certeza do máximo respeito, que aliás também tu me vais dispensando).
Deixa de andar de nariz empinado. Sê um verdadeiro agente dinamizador de projectos concretizáveis. Não sejas pincel nas mãos dos outros e, por último, não esqueças nunca que as minhas necessidades e anseios são por ti sobejamente conhecidas, por ti e por teus irmãos, não por gentes alheios a ti e a mim.
Estou mais descansado agora.
Gostaria que arregaçasses as mangas e, em vez de acabares com o verde que há em mim me renovasses a roupagem dessa cor (não tenho culpa de ter tendências para o Sporting!). A obra realmente feita perdura e alimenta a memória coletiva de um povo! A história é feita de pequenos nadas que, agregados, dão origem a grandes obras (que quando não conseguimos manter ou completar, por vezes vamos desfazendo para não nos ofuscarem). Há coisas pequenas que podem ser feitas para, sem despesas, manter com ar cuidado a beleza e o encanto dos meus recantos! As zonas relvadas do Parque de Merendas e as flores que ali existem merecem ser mais cuidadas( quiçá, substituídas!).
Pedir ajuda, estar disponível, movimentar ou dinamizar como ora se diz, também é uma qualidade dos filhos do Seixo. Ainda “ontem” um grupo de filhos do Seixo, que orgulhosamente se intitulam como meus amigos, se juntou e dinamizaram uma ação louvável em prol de uma das Instituições do meu sector social.
Mas tantas atividades há que poderás dinamizar!
Olha a limpeza do espaço adjacente a todo o sector social! Tens material á mão, disponível… usa a tua capacidade de dinamização e a tua pujança física!
A fachada gandaresa recuperada ficou bonita. Verdade que era mais chocante e apelativa quando estava na sua forma original! Tanto é que te levou a recuperá-la!!!
Não descures a Mãe Gandaresa, o Cruzeiro, o meu Barco, o nosso “bom João Semana” (leia-se Dr. Estrela!).
Afoita os donos das casas a renovarem as pinturas das mesmas. Afoita-os a manterem limpas as ruas, cada um á sua porta!
E a título de despedida, porque não convidas os meus filhos para darem ideias objectivas para a realização do Plano de Atividades para o próximo ano?
Agora, ou melhor, por agora assim me fico.
Recebe um grande abraço deste que a teu lado está, estará e sempre esteve."
(Qualquer possível relação entre nomes, fatos descritos ou parecenças narradas são meras coincidências! A narrativa mais não pretende que transmitir opinião da fonte de informação! )

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