terça-feira, 12 de maio de 2009

Ténues lembranças... (1)

(…) …ludibrio pouco depois o Ti Maná, lavrador de sete costados, calças arregaçadas pelo joelho, vara de aguilhão e “relhada” ao ombro, guiando os seus bois, chamando-os pelo nome que lhe pôs: cabano e amarelo. O cabano é o da esquerda e o amarelo o da direita. Bichos possantes, bem tratados, puxam o carro que, umas horas antes haviam levado carregado de moliço e passado exactamente por este caminho. Descarregou nas Moitas Altas e vai agora em direcção a casa afim de trazer charrua e arado, pois o tempo está criador e a terra pede pão. Parará somente o tempo suficiente para engolir duas bocadadas e dar aos animais uma gabela de pasto, sim que eles também precisam. Tem de dar um avanço na terra pois além de grande, está lenta, precisa ser aberta para corar e receber as sementes que há-de reproduzir. Acompanho-o por momentos, o tempo suficiente para que me convide a acompanhá-lo amanhã bem cedo (quando o sol se levantar, há-de apanhá-lo já e aos seus bois, muito próximo do Cais do Areão, local onde terá carrego de novo para os animais). Declino o convite, mas prometo dois dedos de conversa junto ao Cruzeiro no domingo á tarde. Com um “Vai com DEUS” e “que DEUS te guarde” separamo-nos no espaço onde outrora, á tardinha, se projectava a sombra das paredes e torre da Igreja (já velha, simples, pequena, mas linda!). Ele, lá segue o seu rumo, passo com cadência constante. Eu, encaminho-me para a Fonte da Meneza, quero apanhar ali o carreiro que me levará ás Sardas e dali talvez dê um salto até ao Fojo. Ainda distante, “alcervo” mais um carro de bois que, ao som do chiar do eixo nas rodas, se vai deslocando como que sobre carris, rumo certo e bem definido, sob a batuta (leia-se vara com aguilhão e relhada) manuseada pelo Ti Reboco. Espera vez para entrar em casa o Ti João do Russo com a sua junta e já o Ti Amândio Oliveira deu entrada no seu pátio guiando pela soga os seus animais. É tempo de labuta, labuta que aliás é uma constante para todos. Ti Reboco, Ti Maná, Ti João do Russo e Ti Ribeiro foram os últimos agricultores do Seixo que se aventuraram na lavra do oceano!... Perdeu-se daí para cá a arte de Xávega genuinamente praticada no que respeita a utilização de bois para puxar as redes que são largadas em pleno oceano pelas Xávegas, barcos de pesca artesanal utilizados na nossa costa… …/…

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