quarta-feira, 29 de julho de 2009

...ténues lembranças...

... mas hoje temos de ir ao fojo, tirar as carapitas ao milho, pois a espiga já está formada e a palha é necessária para alimentar o gado. Tirar as carapitas! E eu que estava tão bem na cama! Mas quem me mandou andar até ás tantas no S. Tomé? Arre! Mas... tem que ser. E lá foi! Porque faltava regar dois traveses junto ao poço, tirou a “loira” do carro e levou-a para junto do poço. Logo se pôs em marcha até ao cambão e ali ficou até que lho colocasse no cachaço, unisse as apiaças ao mesmo, lhas passasse pelos cornos e aplicasse a brocha que, unida aos cangalhos do cambão, lhe abraçava o pescoço, iria eventualmente impedir que este levantasse e a impedisse de fazer rodar o engenho que havia de, numa monotonia constante, através dos alcatruzes, transportar a água, lá do fundo, até á almace para depois regar o milho. Enquanto ele guiava a água, regadeira após regadeira, a mãe deu início á quebra das carapitas, bandeiras do milho, que serviram para a polinização do mesmo e agora iriam servir de alimento á “loira” e ás bezerras que tinham ficado no curral. Que mestria e certeza no golpe para partir a palha! A mão direita, aberta, agarrava a carapita de forma a que os nozes dos dedos na união com a mão, tocassem na espiga. Fechava a mão de forma a que o dedo “mindinho” ficasse imediatamente acima do primeiro nó de ligação da mencionada parte da palha. Com um gesto firme, seguro e seco, inclinava-a para o lado diametralmente oposto á espiga e ouvia-se um “toc” seco ficando separada a carapita do pé do milho e lá vinha esta, qual bandeira no ar, encontrar-se com outras que já haviam sido depositada sobre o ombro esquerdo e eram seguras pelo mesmo braço. Assim de fazia até juntar trinta e cinco, quarenta carapitas, formar uma boa gabela e, com muito jeito, transportá-la até ao carro da vaca, depositá-la ali e voltar ao mesmo sítio, e voltar a fazer o mesmo. Quando se chegava lá mais para o fim da terra, para fazer render o tempo, as gabelas eram depositadas da estrema, separadas, sempre com a palha “ugada”, para depois serem juntas, colocadas sobre uma corda, fazer um feixe que era colocado á cabeça e transportado para o carro para depois ir parar a casa. Depois de regar os traveses que faltavam, tirou a vaca do engenho e amarrou-a á roda do carro. Tirou-lhe o cofinho, depois o taipal do carro que estava do lado dela e colocou-lhe uma gabela de carapitas no estrado para que ela se alimentasse, facto a que não se fez rogada. Tentou então ajudar a mãe na faina de tirar as carapitas ao milho para mais cedo irem para casa. Mas que jeito lhe faltava! Ainda não tinha uma dúzia de bandeiras no ombro e já sangrava do dedo mindinho por golpe provocado pela palha devido á falta de “ciência” no golpe para a partir e separar do pé de milho! Mas não deu parte de fraco. Sempre que uma carapita dobrava e não a conseguia partir á primeira...

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