sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

...aquele cheirinho a baixada e broa quente...

…Mandou que fosse ao quintal e trouxesse “um grafado” de lenha para por o lume ao forno. Assim fez. A farinha, devidamente amassada, estava já na gamela, em crescendo, a levedar, coberta com uma toalha. Só faltava dar-lhe tempo e depois tendê-la, colocá-la na pá e enforná-la. Acendeu o forno e foi ao “sote” escolher uma cabazada de batatas, das mais roleiras, para assar no forno. Também já tinha umas postas de bacalhau demolhado, para assar nas brasas que iriam ser tiradas do forno. Aproveitariam o facto de cozer a broa para fazer uma refeição diferente das sopas comuns e diárias. Assariam o peixe enquanto a baixada se cozia e as batatas se assavam. Nada melhor para um sábado á noite em vésperas de S. Martinho. Ah, tinham também uma mão cheia de castanhas para assar e, no final, provar a bica aberta e a jeropiga, feita nas últimas vindimas com os cachos das latadas do quintal. Que bem lhe sabiam estes momentos, já tão raros em casa dos Pais! Aquele crepitar do lume no borralho, aquele cheirinho a baixada e broa quente, tão naturais, transportavam-no no tempo, fazendo-o recuar até aos anos da sua juventude! Faziam-no reviver momentos amargos, alicerces da actual felicidade! Lembrou aquele momento em que perdeu o medo dos relâmpagos e trovoadas que tanto o amedrontavam; Lembrou o bem que lhe sabia o “café de mão no bolso” que lhe servia sua avó (mão no bolso porque nada mais tinha para lhe dar!); Lembrou os tempos em que, com os amigos, fazia Maias e escrevia ás cachopas; Recordou noites passadas calcorreando caminhos de carros de gado, hoje ruas alcatroadas e com passeios empedrados; Recordou, com bonomia, aqueles dias em que se deslocava, carta na mão endereçada ao pai que andava pelo Alentejo na safra, até á estrada de alcatrão e ali esperava que passasse “a ambulância” dos correios recolhendo as cartas dos que ali estavam para esse efeito; Lembrou-se das mulheres que, com burros e cavalos ao carro, se deslocavam pelas ruas do lugar a trocar fruta por batatas! Recordou até a primeira tardada em que trocou tempo a arrasar regadeiras no alto das fontes e da composição do rancho de meninos de então: O João, a Arminda, o Luís, a Preciosa, o Urbino, a Fátima, a Celeste, a Ana! Teriam na altura á volta de doze anos, tinham feito exame da quarta no mês de Junho! Tudo gente da sua idade que já se não encontravam há mais de quarenta anos! Todos emigraram em busca de melhores dias e condições de vida! Curioso o facto da amizade entre os elementos “do rancho” não ter dado em nenhum casamento! A mãe trouxe-o á realidade quando lhe pediu que, com o rodo, retirasse as brasas do forno e o limpasse bem para enfornar a broa, a baixada e as batatas. Assim fez. .../...

1 comentário:

  1. Carlos Cardoso30 janeiro, 2011

    Amigo josé Pereira, pelo que acabei de ler neste blog temos algo em comum, a cultura Gandaresa. Já alguns anos se faz em minha casa reconstituições da cultura gandaresa a última foi em 2007 e talvez se volte a fazer este ano, no mês de Agosto, para veres algumas imagens consulta o meu blog osamigosdaforum.blogspot.com ou vai ao meu album no facebook (arraial gandarês)Abraço

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