…
Manhã cedinho ainda e já a vaca estava ao carro.
Carregou doze cestadas de batatas cortadas na noite de ontem, quase até ás onze horas.
Tinham ceado, lavado os pés e rumado ao sote. Ali mesmo, sentados cada um em seu banquito, tiveram tempo de falar da vida, de cada um, do futuro, das mágoas passadas e de rezar o seu tercinho. Sim esse preceito de que não abdicam diariamente. Muito raro até são dispensados os filhos, mas ontem aconteceu. É que hoje têm provas e era nessairo descansar.
Mas a estrela lá estava, pachorrentamente ruminando a gabela de pasto que muito cedo lhe tinham posto na majadoira.
Ontem tinham andado o dia todo no fojo. Cavaram as cabeceiras, fizeram as bordas e espalharam o esterco do monte pela terra toda, Carrada á frente de carrada, para assim se tornar mais fácil pô-lo no corte quando semearem. Fizeram ainda a enrega em dois cortes. O buano, também ele estava espalhado, dentro dosa sacos, próximo dos montes de esterco.
O sol havia de nascer a apanhá-los já na terra porque as manhãs são curtas. Traziam a Comadre Maria Manhas a ganhar, a Manca e a Calerça a trocar, já lhe deviam três tardes a uma e duas a outra. Só a Angelina e a Toita é que vinham pagar tempo. Mesmo com dois cortes, tinham empreitada que impunha que aproveitassem o tempo.
Mas o trabalho não lhe metia medo!
Verificaram o que tinham carregado no carro: buaneiros, cabazes, engaças, assafate com a bucha (broa, azeitonas, laranjas, um garrafão de água e uma garrafa de parreirol, a faca e duas canecas!) Levavam ainda duas cestadas de batatas por cortar não fosse o diabo tecê-las e a semente não chegar.
Estava tudo. As enchadas tinham ficado na terra, acachadas na estrema. Só vieram as engaças para fazer as camas ao gado, mas também já iam no carro.
Puseram a vaca na rua, fecharam os portões e, ele, encaminhou-se para o fojo. A Maria iria lá ter depois de despachar os garotos para a escola.
…
Óu! Ih óu!
Estava mesmo na cabeceira da terra. Enxergava lá ao fundo dois vultos que não lhe pareceram estranhos mas que não conseguia distinguir bem a modo. Andavam na outra cabeceira da terra a levantar as estremas, mesmo ali ao pé da corrente.
Puxou a vaca para a terra, tirando-a do caminho, tirou-a do carro e amarrou-a á roda do carro. Foi lá ao fundo e confirmou: A Manca e a Calerça já ali andavam há um bom bocado e disseram-lhe que a Toita mais a Angelina estavam com certeza a chegar.
Voltou para junto do carro, tirou dali a padiola e colocou-lhe em riba quatro cestadas de batatas. Entretanto tinha chegado a Angelina que, pegando com ele na padiola, levaram a semente para o corte onde andava a Manca e a Calerça. Estas já tinham o esterco posto no fundo do corte e aguardavam o buaneiro e a semente para enregar a sementeira.
Assim ficou um corte feito: a Manca alagava, a Angekina punha o esterco, a Toita achegava a terra e punha io buano e a Calerça dispunha a semente, certinha entre pés….
Quando o sol se levantou, já elas moirejavam e tinham uma dúzia de regos semeados….
Sem comentários:
Enviar um comentário