quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

... As vacas nem tugiram, nem mugiram. A Maria, que se encontrava sentada no banquito e de cabeça encostada aos quadris da Loira, com um teto em cada mão e o lato de folha no meio das pernas, tirava-lhe o leite com mestria, destreza e rapidez, em movimento firmes, descendentes, fazendo com que os esguichos de leite saídos dos tetos entrassem directamente para o lato. Havia previamente lavado o úbere com um pano húmido para evitar que qualquer poeira, esterco ou outra porcaria qualquer entrasse para o lato e fizesse com que a qualidade do leite fosse reduzida e passasse do pasteurizado para o comum ou mesmo para o desvalorizado!
Chiça, longe vá o agoiro só de pensar nisso! Só uma quinzena estiveram no rol do comum (os fiscais estavam na leitaria e a Maria, por descuido, não coou o leite, facto que impôs, pela amostra colhida, indícios de inferior qualidade e forçou a sua passagem para um escalão inferior ao pasteurizado: o comum!).
Já havia tirado o leita á Malhada e estava quase a acabar o trabalho na Loira. Pouco depois estava ela já com o lato á cabeça, perto de quinze litros de leite dentro dele, a caminho da leitaria da Rita do Ti António, local onde era entregue pelos lavradores e depois recolhido pelas camionetas do Martins e Rebelo, segindo então para Aveiro.
A Loira e a Malhada faziam entrar em casa, todos os meses, a quantia correspondente a uma média de vinte e cinco a trinta litros de leite e davam ainda duas crias por ano. A Loira chegou já aos vinte e oito litros e a Malhada andou só pelos vinte e três (diários, no auge da produção!) Sempre foi pago como sendo (e era!) da melhor qualidade.
Enquanto a mulher se dirigia á leitaria fazer a entrega, ele acordou o rapaz, pôs o leite a ferver (a Maria já o tinha deixado na pixeira e em cima da trempe, era só achegar-lhe uns tronchos!) e cortou uma fatia de pão escuro, daquele que o padeiro tinha deixado pendurado dentro duma bonsa no portão, colocou-a perto do lume para aquecer e derreter a manteiga com que o tinha untado para que o rapaz tomasse o café. Pouco depois era vê-lo alegre, com um capucho de saco na cabeça e a mala ás costas debaixo deste, rumo á Escola na Baleira das Cabeças Verdes, onde iria passar mais um dia com a professora D. Adélia…

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