O dever calou mais
fundo e ei-lo montado na bicicleta a pedalar desalmadamente até casa do avô
para trazer à mãe os ovos que ela havia pedido. E se ele gostava de ovos
estrelados. Mas também adorava o bolo que a mãe disse que ia fazer. Podia ser
que se ajeitassem as duas coisas, quem sabe… Pelo caminho encepou num
cachorrito desmazelado que estava na beira da estrada. Não conseguiu passar sem
primeiro parar para lhe fazer festas e o consolar devido ao abandono a que fora
sujeito. Quando regressou, se ele ainda ali estivesse ponderaria o que se podia
fazer… Voltou a montar na bicicleta e ainda olhou para trás duas ou três vezes.
O cachorro não se mexeu do lugar onde o deixou. Apetecia-lhe voltar para trás e
dar-lhe mais duas palavritas… mas pôs-se a cogitar e a pedalar com mais força
ainda. Quando chegou a casa do avô já a avó lhe tinha metido os ovos dentro
duma bonsa de tecido, bem acomodados, para que os não partisse pelo caminho.
Foi só tempo de lhe dar um beijo, perguntar pelo avô e de novo encavalitar-se
em cima da bicicleta armado em ás do pedal, retesar os músculos e ganhar
velocidade para chegar rapidamente… ao local onde ficara o cachorrito. Já não
ouviu a recomendação da avó para que fosse com cuidado para não partir os ovos
à mãe…
… Apressou-se a fazer o que a mãe mandou. Na verdade cumpriu por pura obediência pois o que lhe interessava não era mesmo executar a ordem mas ir em busca de algo mais apetecível e capaz de o satisfazer naquela indómita vontade de correr atrás da bola e ufanar-se de grandes jogadas e golos concretizados no jogo imaginário. No seu pensar não havia jogada alguma que se lhe pudesse assemelhar… mas a mãe arrancou-o aqueles pensamentos arrebatadores quando quase lhe suplicou para que fosse leste fazer o que lhe havia pedido.
Bem longe ainda, logo vislumbrou
as orelhas do cachorro, bem erguidas, na beira da estrada, no mesmo sítio onde
o tinha deixado…
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