Tenho razões para ser gandarês : Sou neto da "Ti Manca", do "Ti Zé da Domingas", da "Ti Alzira da Reboca"! Forma simples que encontro para com eles dialogar, fazer com que nunca sejam esquecidos, que os meus filhos, amigos e todos os que a este blog se desloquem, deles se lembrem. Deles e doutras personagens a quem me curvo pela sabedoria, pela forma de vida, pela maneira de estar, pela influência que em mim tiveram, pelo sorriso que ainda ostentam nas imagens que os perpetuam no Campo Sagrado.
sábado, 27 de junho de 2009
Há tantos anos...
... levanta-te filho, que já é tão tarde! Olha as horas Manel! Olha que daqui até ao fojo do Albano ainda é mais de meia hora de caminho e ás onze já o poço tem de estar vago para outro!
Com esta conversa a mãe o chamava e tirava da cama, quase todos os dias, por volta das cinco horas da manhã. Só mudava o destino e o nome da terra: mas era quase sempre para o fojo e mesmo para aquele em que o poço lhe pertencia, as horas eram as mesmas pois o gado suportava melhor o fresco que o calor agarrado ao engenho.
É que ela tinha medo de se por ao caminho sozinha aquela hora e o garoto fazia-lhe muito jeito, pois, apesar de ter só sete anos, enquanto ela guiava a água do cavalo para os traveses e nestes por cada uma das regadeiras (do caminho para o fundo da terra por um lado e depois, no regresso, pelo outro!) ele, além de tocar a vaca que, pelo menos três horas, andava sem parar com o cambão no cachaço, monótona e continuamente, ligada a roda do engenho que movia os alcatruzes e assim depositavam a água na almace que iria depois pelo cavalo até á terra para regar o milho, ia desafazendo o barro que tinha junto á saída da água ou lavando as agulhas que tinha posto num cesto no carro, desfazendo as “bosteiras” da vaca e criando um laço nos cômoros do cavalo que dificultavam a penetração da água e o seu consequente desperdício, fazendo acelerar o seu andamento normal.
E era vê-los pouco depois a sair de casa, ele sentado no carro da vaca e a mãe com ela pela soga, rumo ao fojo e poço do ti Daniel para regar a terra do milho.
Primeiro desfazes o barro que eu já pus no cavalo, e só depois é que começas a lavar as agulhas. Vê lá o que fazes. Não assustes a vaca senão ela pode “virar o cú” e cair para o poço e não há quem nos acuda. Ai que rica poçada de água aqui está. Toma conta filho, não vás tu também parar lá dentro. Não deixes parar a vaca!
E o fedelho ali ficava, descalço, percorrendo aqueles dois metros de cavalo, pisando o barro, acordado porque a água lhe dava pelos tornozelos e estava fria...
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