
Tenho razões para ser gandarês : Sou neto da "Ti Manca", do "Ti Zé da Domingas", da "Ti Alzira da Reboca"! Forma simples que encontro para com eles dialogar, fazer com que nunca sejam esquecidos, que os meus filhos, amigos e todos os que a este blog se desloquem, deles se lembrem. Deles e doutras personagens a quem me curvo pela sabedoria, pela forma de vida, pela maneira de estar, pela influência que em mim tiveram, pelo sorriso que ainda ostentam nas imagens que os perpetuam no Campo Sagrado.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
...muita amargura!
… fizeram-me as paredes e arranjaram-me a cozinha e um quarto. Deram-me alguns trastes e um bocado na baixa nos palhais, já semeada, para fazer frente aos primeiros tempos.
Mas e gado? E lugar onde o meter para começar a fazer vida!
Foi um passo que demos mas muito nos custou!
Com o resto dos adobes da casa, lá fizemos um curral para abrigar a vaca (ou bezerra? Se fosse uma bezerra iríamos ter mais trabalho: havia que ensiná-la a trabalhar!) e outro ao lado, mais pequeno, para um porquito, já que era preciso acautelar o adubo para as sopas durante o ano.
Depois, veio então a parte que mais nos custou mas que era a única maneira de ir além: falar com o “Ti Jarolmo” para nos fazer um carro de cambas, mas o mais levezinho possível, embora o quiséssemos robusto para durar muito tempo e falar também com o Ti Albano para tratar das condições e ter gado de meias.
Revoltaram-me mas teve que ser.
A proposta era agradável, o homem queria pôr-nos no curral uma vaca á segunda barriga, cheia de quatro meses, que na primeira barriga chegou aos vinte e um litros, não estava a ser bem tratada e, acima de tudo, trabalhava embora estranhasse!
Aceitámos, mesmo sabendo que o dinheiro da cria que vinha na barriga da mãe, seria integralmente entregue ao Ti Albano. Do dinheiro das seguintes seria uma parte para cada um. Do leite que a vaca desse, duas partes eram para nós e uma parte para o Ti Albano. Ficávamos com o trabalho do animal tendo como contrapartida directa a alimentação do mesmo e o pagamento eventual das percas do rol, pois havia necessidade de garantir o capital empatado na compra do animal: trinta e oito notas, uma pequena fortuna!
Por falar em rol, o que nos foi aconselhado pelo Ti Albano foi o rol de valores, pois era o que mais vantagem nos oferecia. Pagava percas tais como mancaduras, cornos partidos, rentes ou mesmo só a caixa e morte do animal ou mesmo da cria. O dinheiro das percas entrava directamente para os bolsos do Ti Albano. Se houvesse que pagar para outros sócios, isso já era assunto de quem criava e trabalhava com o animal!
Resumindo, para receber as percas, estava o Ti Albano e para as pagar, aqueles que tinham o animal a seu cargo. E sabes qual era o valor de cada cria que nascesse no curral lá em casa? Quatro notas ou, na melhor das hipóteses, quatro notas e meia! Quanto ao leite era só tirá-lo, de manha e á noite, e ir levá-lo á leitaria da Ti Rosa, ali mesmo ao pé da Igreja…
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