
Tenho razões para ser gandarês : Sou neto da "Ti Manca", do "Ti Zé da Domingas", da "Ti Alzira da Reboca"! Forma simples que encontro para com eles dialogar, fazer com que nunca sejam esquecidos, que os meus filhos, amigos e todos os que a este blog se desloquem, deles se lembrem. Deles e doutras personagens a quem me curvo pela sabedoria, pela forma de vida, pela maneira de estar, pela influência que em mim tiveram, pelo sorriso que ainda ostentam nas imagens que os perpetuam no Campo Sagrado.
terça-feira, 9 de junho de 2009
...profundas raízes...
…da minha direita ecoa bate-bate, oco, cadência firme e constante. A curiosidade aguça-me o apetite e espreito por uma frincha existente entre as tábuas do grande barracão.
É um estaleiro.
Manejada pela mão firme do Ti Manuel Gadelha, cai certeira a enchó que prepara as tábuas para novo barco moliceiro (ou será mais uma Xávega para o Oceano?
Barca de certeza que não é, pois o esqueleto da proa vislumbra-se já altivo!)
Continuo o meu caminho e paro frente ao Cruzeiro.
O único “monumento” existente na nossa terra até há bem pouco tempo… é lindo. Todo ele em pedra calcário, constituído por quatro colunas redondas encimadas por meia calote e sobre esta, uma esfera do tamanho de uma bola de futebol, também de calcário. Alberga um Cristo crucificado. Encontra-se rodeado por “grade de pedra calcária” e em cada um dos quatro cantos, outros tantos marcos redondos, quais guardiães atentos a todas as rodas de carros de bois e vacas que se aproximem, sempre disposto a receber e repelir os eventuais ataques dos clarins metálicos destas rodas protegendo assim a vedação do cruzeiro (ainda me não deram uma razão que justificasse a construção de tal monumento. Suponho que, já que é designado por Cruzeiro da Restauração, tenha sido uma forma de o nosso Povo manifestar publicamente o seu patriotismo, a sua gratidão e forma de apoio ás lutas, então travadas, tendo em vista a recuperação da Independência Nacional ou será tão só uma pública manifestação do seu sentir e viver religioso?).
Era um local de eleição para, á sua volta, juntar rapazes e raparigas. O movimento de viaturas era diminuto, se não mesmo nulo, e, quando havia número suficiente, logo se formava a roda, se lançavam no jogo do lencinho até se formarem eventuais pares que, deslocando-se para muito perto mas suficientemente longe para que as suas conversas não fossem ouvidas, respeitada a distância necessária entre corpos (nada de ousadias muito em especial por parte dos rapazes) a abandonavam e davam inicio a uma tarde de namora (a maior parte das vezes a conversa não saía do tempo, das culturas, do passado, e, caso o namoro fosse já “mais adiantado” eventualmente do futuro). Era uma rica ocasião para não ter crianças por perto, não se livrando, contudo, dos olhares das mulheres mais idosas, que, de eventuais alcoviteiras e casamenteiras, ali arranjavam motivo que alimentasse as conversas durante a semana que se avizinhava! Não raras eram as vezes que “o parzinho” era chamado á roda para não dar tanto nas vistas. E era só para falar um com o outro! Um para o outro! Olhar nos olhos um do outro! Ouvir o silêncio do outro! Fazer promessas…
Que narrações poderá este Cruzeiro vir a contar? Que ocorrências testemunhará e relatará aos vindouros? Ficam as perguntas no ar … e cá me vou andando...
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