quarta-feira, 15 de julho de 2009

Já estamos nas férias grandes!

… e a escola estava quase a acabar! Que bom ir ter férias grandes! A mãe tinha prometido que se ele passasse para a 4ª classe poderia ir com os Pisadores da Calçada, os Estudantes do Seixo, ao acampamento que eles fazem todos os anos perto da Praia. E este ano que vai ser de arromba porque o acampamento vai ser no Areão, muito perto da Casa da Guarda-fiscal, em sítio resguardado e longe de tudo e todos. Estavam previstas muitas actividade, quer de dia quer de noite. Foi motivo de conversa esta promessa e até D. Adélia, sua professora, estava interessada em que os seus alunos todos tivessem esse prémio. Tudo fazia para que eles se aprimorassem e fossem exemplo para os outros. Amiga dos pais dos alunos (mais daqueles que passavam lá por casa amiudadas vezes do que dos outros) tinha o seu método próprio de ensinar e mantinha-os ao corrente dos avanços e dificuldades que cada um tinha ou fazia. Chegava mesmo e muitos dias a, no final do tempo de aulas diário, levar para casa os alunos que tinham tido mais dificuldades para ali, com jeito, paciência, pancada, água á jarra, os forçar a encaixar um verbo, uma tabuada, a decorar uma lição, a fazer ditados para evitar dar erros, etc. Mas voltemos á promessa. Ele passou e naquele dia de Agosto, uma segunda-feira de manhãzinha, com um saco como mochila e uma mala debaixo do braço, integrava um grande grupo de rapazes (só rapazes!) no Largo da Igreja Velha, á espera de um tractor para os transportar, aos seus pertences, tendas e todo o material necessário para o acampamento das férias grandes. Entre sacos, mochilas, panelas, cobertores, tendas, e todo o resto que se adivinhava poder vir a fazer falta, amontoados no atrelado, alguns, e outros a cavalo nas suas bicicletas, ei-los que partem, cabeça ao vento, riso na cara, irradiando alegria rumo ao Areão para li passar dez dias de sonho. Eram vinte e sete! Demoraram cerca de duas horas a chegar ao destino. A Guarda-fiscal, previamente avisada e conhecedora da autorização concedida pelos Serviços Florestais, aguardava os novos vizinhos para aquele período. Permitiu a utilização da bomba de rabela para obtenção de água potável (?) e foi o garante da segurança necessária e desejável. Calhou-lhe um dos primeiros dias, fazer parte do grupo que estava de serviço “á intendência”. Como tal e porque todos se levantavam á mesma hora (ás seis da manhã, todas estavam de pé pois os dias, embora de verão, eram curtos para a concretização de todas as actividades programadas. Mas dizia, porque fazia parte da intendência, teve a sorte de ser parte integrante do grupo de quatro que teria que ir á aldeia do Areão, a casa do Ti Domingos, buscar pão, ali deixado pelo Padeiro do Seixo de propósito para aquela sua gente, e os oito litros de leite, directamente vindo do ubre da vaca da mulher do ti Domingos. Leite fresquinho e com garantia de total qualidade, garantida pelo Ti Domingos que conhecia muito bem uma e outra, dizia ele bonacheirão. Mas as peripécias começaram pouco depois de ter saído do local do acampamento. Estavam localizados a cerca de duzentos metros, para Sul, da casa da Guarda-fiscal e a cerca de outros duzentos metros desta, situava-se o Canal de Mira que havia que atravessar “a vau” para um a outro lado já que não havia barco para o efeito. Se do acampamento para terra foi fácil, a maré estava a começar a subir com força, o mesmo não se pode dizer do caminho inverso. É que o padeiro atrasou-se e chegou uma hora depois do previsto. Nada de anormal para quem estava de férias! Os outros elementos até tinham ido fazer a ginástica matinal para as dunas e depois iriam deliciar-se com um fresquinho banho de mar para enrijar os ossos. Mas a maré que não pára o seu curso e uma hora são sessenta minutos de muita água a correr, a empurrar a água que desce o canal de Mira rumo ao mar! Quando ali chegaram, saco de pão ao ombro e lato de leite na mão, deram inicio ao atravessamento do canal, com a água a subir desde logo inicialmente e na margem, por cima da cinta! Ainda não estavam a meio e já ela lhe chegava aos ombros! E o saco do pão que era de papel! Melhor sorte tinha o Luís que, com muito jeito, ía mantendo o lato de alumínio na vertical, boca tapada com a tampa e se ía apoiando nela para caminhar, quase não fazendo força para transportar a vasilha. Com os braços o mais elevados que era possível e o saco do pão sobre eles, lá foi indo, quase, quase permitindo que o saco de papel de desfizesse, conseguiu ultrapassar o meio do canal. Eis senão quando…

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