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e o fizeram alinhar juntamente com os outros cerca de duzentos, na parada do quartel, exactamente como a mãe o deitou ao mundo e a outra quando, em Santa Margarida, (onde foi malhar com os ossos) lhe entregaram a farda e, depois de lhe terem dado um tempo para despir toda a sua roupa, um figurão lá do sítio lha escondeu para que todos observassem a brancura imaculada do seu corpo que, embora duramente castigado nos trabalhos do campo, se mantinha alvo e puro como a sua alma. “É que aquilo que nos guarda o frio, guarda-nos também o calor”, diz-me prazenteiramente, como que a justificar o motivo da cor da sua pele.
Traz consigo, no bolso das calças, uma navalha cuja folha mais parece uma meia-lua do que um folha de objecto cortante, pelo uso que dela faz e ao tempo que a usa, descrevendo-a como se dos seus dentes se tratasse. Na verdade nada come, pão ou boroa, fruta ou qualquer que seja o conduto, que a navalhita não corte em pedaços muito miúdos para facilitar a salivação dos alimentos e ser mais fácil o seu triturar pelos poucos e raros dentes que ainda possui e pelas gengivas.
Fez a recruta e tirou a especialidade de “cozinheiro”, actividade que lhe está enraizada no gosto, saber, querer e fazer! Ainda hoje o Ti Manel faz um sarrabulho de se lhe tirar o chapéu, um arroz de leves divinal e uma caldeirada de nunca mais parar de comer. Que grandes barrigadas de riso, comida bem “abeberada” e boa cavaqueira se passaram e passam ainda na sua presença. Também tentarei dar ao papel as descrições que lhe ouvi no campo gastronómico.
Lá mais para a frente…
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