domingo, 10 de janeiro de 2010

cavar, cavar, cavar!

... Se a sementeira prevista na terra a cavar eram as batatas, quando o rancho era grande e já estava cavada uma porção considerável de terreno, muitas das vezes passava para a parte de trás um grupo de pessoas, nunca inferior a quatro, podendo neste trabalho ser aproveitada uma criança para desempenhar uma função e permitir maior rendimento de trabalho dos adultos. Das quatro pessoas que passavam para a sementeira, uma era a que, munida de um cesto de vime, carregava o esterco dos montes para o corte e o dividia em camada uniforme pelo corte ou carreiro. Outro puxava terra com as mãos para cima do esterco e colocava a semente sobre esta. Outro ainda, eventualmente a criança, munida de um boaneiro, ia colocando pequenas pitadas de adubo (uma mistura de amónio e potassa), sobre o esterco, entre as talhadas da batata, mas nunca muito próximo destas e finalmente, a última, era o alagador que, munido de uma enchada de cem mil réis, ía alagando, cobrindo com terra a semente, abrindo assim novo sulco ou carreiro, tapando o primeiro para repetir todo o ritual, quase automático, de cada uma das pessoas que andavam neste corte. Se o que se pretendia era a sementeira do milho, o cavar era realizado de forma diferente, cavava-se a releicho, revirava-se a terra, oxigenando-a mas não se deixava lisa, deixavam-se deliberadamente uns sulcos com cerca de meio metro de altura, mantas mais largas e raramente era tapada a estona do fundo do corte. O esterco descarregado dos carros de bois ou das vacas, era então carregado com os cestos de vime e dividido, punhado a punhado, um á frente do outro, devidamente espaçado, de forma a permitir a colocação da semente pretendida sobre este esterco depois de se lhe colocar um pouco de terra sobre o mesmo e ter sido feita a adubação conveniente. A terra sobre o esterco era colocada com os pés, quase sempre com a ponta da frente do pé, e só depois se espalhava a semente, alagando-se então com os pés e pisando-a um pouco para permitir um maior e melhor aconchego facilitando a germinação. Quase sempre era semeado entre as covas do milho, umas covas de feijão, semente mais sensível que requeria uma adubação menos azotada, por isso mesmo era estrumado com o esterco da estrumeira ou da cerca das galinhas. A finalizar, eram ainda semeadas uma covas de abóbora, tudo na mesma terra, e esta tudo dava porque era tratada com um cuidado quase cirúrgico. Vida dura a dos meus antepassados mas repassada de alegrias.E as culturas lá iam sucedendo, cadência fixa, constante, com mais ou menos produção e consequente interesse económico, explorando a terra até aos seus limites, e os limites nunca acabavam...

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