Tenho razões para ser gandarês : Sou neto da "Ti Manca", do "Ti Zé da Domingas", da "Ti Alzira da Reboca"! Forma simples que encontro para com eles dialogar, fazer com que nunca sejam esquecidos, que os meus filhos, amigos e todos os que a este blog se desloquem, deles se lembrem. Deles e doutras personagens a quem me curvo pela sabedoria, pela forma de vida, pela maneira de estar, pela influência que em mim tiveram, pelo sorriso que ainda ostentam nas imagens que os perpetuam no Campo Sagrado.
domingo, 7 de março de 2010
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Aqui se desfaziam dos produtos de que abdicavam por considerarem supérfluos, “gulapeiros”, em detrimento do necessário essencial.
Aqui compravam, vendiam e trocavam produtos. Aqui trocavam experiências, ensinamentos. Aqui enriqueciam de forma estranha numa contínua troca de teres e conhecimentos!
Povo crente! Que cresceu á sombra da torre da Igreja onde o Sr. Abade era órgão máximo na gerência e orientação de toda a Comunidade.
Gente que fixou nuvens de areia! Que transformou areias soltas e simples em terrenos produtivos!
Gente que se adaptou ao rigor do tempo e criou condições para, por conhecimentos adquiridos, viver em plena harmonia com tudo e todos! Até com os animais que explorava!
De manhã e á noite, cabeça encostada entre os quartos traseiros e as costelas da vaca, mãos nos tetos em movimentos verticais de cima para baixa e de aperto intermitente, de massagem, precisos e constantes, vão libertando do úbere o precioso líquido!
Leite que de manhã e á noite, é entregue na leitaria.
Gente que ia á feira apalavrar. Gente que negociava em plena rua produtos e vivências. Gente que respeitava e se fazia respeitar dando á palavra mais valor que muitos documentos hoje lavrados nos Cartórios!
Aqui se trocavam e negociavam ferragens, cereais, tamancos, peixe, vinho, comidas, roupas, barros, batatas, plantas, porcos, bovinos, aves, chupas, tremoços…
Gentes que olhavam o tempo e, com base nos ensinamentos que oralmente lhes foram sendo transmitidos pelos antepassados, ousava fazer futurismo, sentenciar o presente e vaticinar ocorrências futuras!
Gente que labutou nas olarias a fazer adobes, de sol a sol…
Gente que partiu para os “Brasis”, para as “Américas” e Europa na procura e luta pela concretização de um sonho!
Gente que, com sangue, suor e lágrimas, se entregava durante mais de vinte e quatro meses, de corpo e alma, lá longe, muito perto do Cabo das Tormentas ou da Boa Esperança, a defender a Pátria amada, por imposição!
Que amor… mas amavam o dever até á morte se preciso fosse!
Gente que ousava e até trocava… tempo!
Gente que carregava “zargas” á cabeça!
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Agitação e movimento constante de sol a sol! Desde as Ave-marias ao toque das Trindades! Agitação que dava vida e cor a esta Aldeia!
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Aqui se reproduziram algumas brincadeiras de crianças!
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Hoje, aqui, “desbulhámos” uma eirada de espigas!
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Recriámos uma ida á fonte e a namora tão almejada por rapazes e por cachopas!
Hoje e aqui, fizemos reviver o ceguinho e o cantar das tragédias que ocorreram!
Hoje e aqui fomos confrontados com a força e emoção que a “pinguita” dava ás palavras e como era fácil passar de imediato á acção!
Assistimos á chegada do nosso Soldado do Ultramar!
Verdade seja dita que brincámos e demos muita ênfase ao caricato das saídas para o Brasil e das… Madrinhas de Guerra, mas… recordam-se, com certeza, que a coisa andava por ali…
Em suma, amassámos a farinha e pusemos o fermento!
Estamos agora a aquecer o forno, a lançar achas para a fogueira, não vá a massa azedar, o calor arrefecer, a vontade desvanecer-se!
Até hoje, vivemos já, com mais novos e mais idosos, momentos da nossa história colectiva e revivemos acontecimentos que ficam para próximos capítulos e outros momentos!
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