
Tenho razões para ser gandarês : Sou neto da "Ti Manca", do "Ti Zé da Domingas", da "Ti Alzira da Reboca"! Forma simples que encontro para com eles dialogar, fazer com que nunca sejam esquecidos, que os meus filhos, amigos e todos os que a este blog se desloquem, deles se lembrem. Deles e doutras personagens a quem me curvo pela sabedoria, pela forma de vida, pela maneira de estar, pela influência que em mim tiveram, pelo sorriso que ainda ostentam nas imagens que os perpetuam no Campo Sagrado.
quarta-feira, 24 de março de 2010
(in) gratas recordações!
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Não era raro dizer-se do mesmo, ser a terra pão, adentro de muros. Era ali que se tinha sempre o cuidado de plantar couves, semear feijões de trepar, cultivar repolho, cenouras e, para novidade das novidades, semear, logo no cedo, uma cabazada de batatas para comer das “novas” na Páscoa. Era o espaço mais bem estrumado de todas as terras e onde era mais fácil e assídua a rega pelo pé.
Dum dos lados do pátio de entrada, existia uma divisão, talvez a de maiores dimensões de toda a casa gandaresa e que se destinava a “casa de arrumação” e simultaneamente de adega. Quase sempre existia nesta divisão, um “sote” (sótão: aproveitamento do espaço triangular situado acima da viga que encima as paredes e o cume, ocupando todo o espaço da casa de arrumação) para permitir a existência de mais espaço para armazenagem de produtos da terra, normalmente batatas, para consumo e eventualmente vender “no tarde”. Em muitos casos o sótão prolongava-se ainda sobre o pátio, não havendo contudo acesso directo e franco a este senão uma passagem aberta na empena existente entre a casa de arrumação e o mesmo. Poderia acontecer que o acesso ao sótão se fizesse pelo pátio, mas, neste caso, havia o cuidado de proteger a escada com paredes quase sempre de tábuas e com porta onde se aplicava uma tranca que funcionava de forma a que só os donos da casa sabiam accionar.
Na casa onde nasceu o Ti Manel, entre as portas da cozinha e a porta do curral do gado, havia um grande abrunheiro, dos vermelhos, que carregava todos os anos. Era a única fruta produzida no quintal além de duas laranjeiras, também elas já de idade avançada, bem como as latadas de parreiras á volta de todo o muro do quintal que produziam cachos, que juntamente com as uvas da vinha existente na Carvalha, produziam vinho em quantidade suficiente para o consumo da casa durante o ano. Lá ao fundo, a um canto do quintal, lá estava a figueira da cova!
Aqui, o Ti Manel parou uma vez mais e sorriu durante alguns instantes, lembrando certamente tempos idos... (in) gratas recordações!
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