quarta-feira, 24 de março de 2010

... Os trabalhos sazonais eram sempre motivo de alegria e troca. Sim, atreviam-se até a “trocar tempo”! A quem mais lembraria tal? Todos os trabalhos exigiam longos rituais e envolviam grande parte das gentes da aldeia que assim iam ganhando o pão para o dia-a-dia, ou simplesmente a garantia de braços para o dia da sua safra. Cultivava-se muito trigo e centeio (nos foros), milho, batatas e feijão (nos fojos), arroz (nas terras mais baixas como o Chão Velho, Fontes do Olho, Ribeiros, Palhais). A necessidade obrigava, por vezes, a que os homens do campo, além de cavadores e gente habituada a lidar com o gado nas lides da terra, fossem também exímios fabricantes de adobes (manejando a sua enchada de cem mil réis nas olarias, de sol a sol, a troco de dezassete mil e quinhentos reis) e pescadores natos, ousando até lançar os bois na lavra do oceano, onde estes animais entravam até terem água pelo peito, forçando a Xávega a entrar de rompante, sulcando as ondas! Mais de sessenta chegaram a ser os barcos moliceiros ancorados a moirões no Cais do Areão, todos eles governados por lavradores do Seixo. E a ria que recebia de braços abertos aqueles que a iam esventrando e, usando as suas “cabritas”, lhes arrancavam de forma desalmada e constante, os finos cabelos coçando-lhe o leito, permitindo um constante renovar de vida! E que qualidade tinha a água naqueles tempos! Que quantidade de peixe acoitavam! Que saudade das enguias, das… carradas de moliço puxadas por bois quantas vezes ao som do chiar das rodas no eixo por falta de unto!... …/…

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