sexta-feira, 16 de julho de 2010

Peguei na rabela da bomba e...

Estes homens vestiam ceroulas e camisa de flanela, camisote de algodão. Na cabeça, usavam barrete de lã, preto para agasalhar as orelhas do vento marinho, descalços enquanto nas lides da pesca, calçavam tamancos “de homem” quando se deslocavam fora dos areais. … e que viesse cedo, porque amanhã estaria um grande dia de calor. Assim fiz. Ainda não eram oito horas e já eu entrava, assobiando jovialmente, pelo portão dentro em busca do ti Manel. Em casa, nem rasto. A porta da cozinha estava fechada só com a tramela, sinal evidente de que estaria por perto ou, se tivesse saído, depressa regressaria. Fui até ao poço, peguei na rabela da bomba e, antes de fazer sair água, apercebi-me de que, muito recentemente, alguém ali teria estado a bombar a água que caía para o pio e ia directamente para a cerca das galinhas. Dali prosseguia para o quintal, passando por baixo da rede e muito próximo da cerca do curral do porco. Chamei e continuei a minha caminhada em busca do meu interlocutor e fonte de informação. Entrei no quintal e, lá ao fundo, debaixo de uma frondosa laranjeira, surge o Ti Manel, rosto ofegante e vermelho, sentado num cepo e apoiando o queixo sobre as mão que descansavam no cabo do engaço. Ai isto é que é vir cedo como eu te disse ontem? Questionou-me prazenteiramente mal me viu chegar! Eu não te disse que o dia de hoje ia ter calor de dar pelas barbas? Quem quiser fazer alguma coisa nas terras ou no quintal, tem que levantar cedo e aproveitar o tempo mais fresco, antes do nascer do sol porque senão, depois disso, já não há corpo que aguente este tempo. Já reguei o quintal, e também já andei a engaçar um pouco de castanhol que, aqui e como tu vês, é como a graça de Deus. Mas vem e senta-te aqui que sabe tão bem, estar bem acompanhado e ao fresquinho da manhã deste dia soalheiro e limpo. Acedi e, virando um cesto de vime ao contrário, encostando-o ao tronco da laranjeira, sentei-me no mesmo deste um espaldar para a minha coluna. Soube-me mesmo bem e não contive um urro de prazer tendo previamente enchido os pulmões de ar até eles não poderem levar mais, mesmo até ao fundo, assim ficando alguns segundo ouvindo a linguagem do vento, dos ramos, das aves e o murmurejar das águas que escorrem na vala dos Almeidas, ali mesmo ao fundo do quintal. Então, que queres saber hoje? Interrogou-me de imediato e antes que eu apresentasse algum assunto para a discussão, sempre tão agradável e apetecível...

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