quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Tempo de limpar estremas e valas...

… Pelo sarrento da noite, arribou a casa. As pernas traziam agarradas ás canelas forte camada de lama seca, fruto do trabalho que andou a fazer nas ùltimas horas: limpar as ervas e lama do fundo da vala da sapateira e seus cômoros, mesmo no sítio onde ela abraça o palhal e as suas águas por ele se espalham… é que o Estio caminha para o fim e o Guarda Rios já fez saber que iria fazer cumprir a lei á risca. Bem sabia o Manel que teria que limpar as valas que confinavam com os ventos das suas terras, assim o exigia a lei, e se eram uns bons metros de comprimento! Mas… Andou pela terra do caminho das pedras onde a sua Maria, de foicinho em punho, arranjou uns feixes de gorga para o jantar do gado. Carregou-lhos para o carro dos bois, pô-los ao carro e, enquanto ela se dirigia para casa, dar as voltas e fazer a ceia, ele regressou á vala para adiantar mais um pouco o trabalho, dar mais rigidez aos cômoros, não vá a água ser muita e aflorando-os, rebentá-los e inundar os margidos que por lá tiver. Limpar estremas e as valas para onde correm as águas das chuvas é muito bom trabalho. Sempre gostou de fazer o que lhe é devido atempadamente, sem que o forcem a fazê-lo! Mesmo quando se tratava do pagamento da décima e do serviço braçal, nunca gostou de deixar para os ùltimos dias. Chegado a casa, a Maria havia já dado as voltas: encheu a manjedoura ao gado, fêz-lhe as camas, tratou dos porcos, tirou o leite ás vacas e tinha mandado a cachopa levar o leite á leitaria. A ceia estava ao lume e se exalava bom cheiro! Tirou os bois do carro, encaminhou-os para o curral, tirou-lhe a canga e cada um deles se dirigiu para o seu espaço próprio. Era só amarrar a soga á argola da manjedoura. Quando entrou em casa, já tinha a celha com água preparada para lavar os pés, trabalho a que o mais novo procedia com muito gosto pois era um momento aliciante para si! O pai sentava-se no banquito e este ao lavar, passava-lhe com as mãozitas pela sola dos pés. Este, colaborando indirectamete com ele, ria ás gargalhadas e retirava-os da celha alegando que tinha cócegas! Muito se divertiam pai e filho! A brincadeira só acabava depois da cozinha estar com o chão quase todo molhado, havendo muito pouca água na bacia e a mãe começar a “ralhar”! Da panela ao lume saía um cheirinho que até transportava um simples mortal aos céus. Antes de ir para a terra, a Maria tinha deixado a panela ao lume com feijões e um naco de toucinho e um pedaço de chouriça, ainda do porco morto no S. Martinho, a ferver. Tinha-lhe achegado mais uns rachões e, quando chegou a casa, estava tudo muito bem cozinhado. Foi só cascar umas batatitas, ir ao quintal apanhar umas folhas de couve, cortá-las muidinhas e masturar os feijões. Estava tudo a ficar mesmo a pedir para ser comido! Chamados os filhos para a mesa, foi buscar uma broa á tábua e, graças dadas, cearam!...

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