
Tenho razões para ser gandarês : Sou neto da "Ti Manca", do "Ti Zé da Domingas", da "Ti Alzira da Reboca"! Forma simples que encontro para com eles dialogar, fazer com que nunca sejam esquecidos, que os meus filhos, amigos e todos os que a este blog se desloquem, deles se lembrem. Deles e doutras personagens a quem me curvo pela sabedoria, pela forma de vida, pela maneira de estar, pela influência que em mim tiveram, pelo sorriso que ainda ostentam nas imagens que os perpetuam no Campo Sagrado.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Primeiro dia com costelas…
...agarrou a costela, abriu-a e retirou o corpo inanimado do pardalito. Voltou a dar-lha e mandou que fosse armá-la novamente no mesmo sítio. Quando lá chegou, outro pardal havia caído na costela que o pai armou. Já não armou a sua! Veio a correr com as duas nas mãos e encontrou o pai a rir ás gargalhadas em conversa com a mãe.
Vinha radiante! Dois pássaros em tão pouco tempo! Que grande caçada se avizinhava! Iria arranjar carne para toda a família, conjecturou. Ainda não tinha entrada em casa e já chamava pelo pai que acorreu logo! Via-se no seu semblante que também ele tinha recuado no tempo e estava a divertir-se tanto como o filho naquela epopeia da caça aos rolhaças com as costelas!
Bom agora que já viste como eu fiz, toma lá! E passou-lhe para a mão dois bichos da palha do milho, a rabiar… Agarra as costelas, uma de cada vez e amarra um bicho em cada uma, como eu fiz há pouco! Como visse cara de aflito ao filho, disse-lhe:- anda que eu ajudo-te! E, pacientemente, lá lhe disse como se fazia para colocar o bicho no fio da costela e torná-lo um isco apetecido para os pardais. O miúdo teimou e viu-se em palpos de aranha para colocar o tal bicho na costela! Segurou-o por uma das extremidades e tentou vezes sem conta até conseguir, forçar o bicho a enfiar o rabo no laço que tinha feito com o pequeno fio atado ao eixo da costela. Apertou-o depois, não muito, mas o suficiente para que não se espipasse e suportasse a bicada do pardal, fazendo destrancar o mecanismo e permitindo que a costela se fechasse e o rolhaça ficasse preso nesta quer pelo pescoço, quer por outra qualquer extremidade do seu corpo. Mas conseguiu, mesmo arrepiando-se todo pelos movimentos que o ser vivente fazia para se libertar das suas mãos, que o bicho ficasse amarrado curto e ligado ao travão da armadilha. Agora só tinha que voltar a armá-las de imediato, no mesmo sítio e como o pai lhe disse. Assim fez lembrando-se inclusivamente de mexer e destapar o bicho para que ele rabiasse e se desse a mostrar aos pardais. Se amarrar o bicho ás costelas foi difícil, armá-las teve o seu quê de caricato, agridoce, e… dorida! Levei com uma nos dedos que até vi estrelas! Mas como o pai estava a ver, nem se atreveu a chorar. Limitou-se a fungar, a encher o peito de ar, comer as dores que sentia e…armar as costelas, pois então! Aprendeu da pior maneira! Mas nunca mais se trilhou!
Quando se prepararam para se esconder dentro de casa, teve inicio a movimentação de pardais famintos. Pouco tempo depois já estavam mais dois pardais apanhados e assim aconteceu, aos dois de cada vez, gargalhadas e corridas da cozinha para a eira e da eira para a cozinha! Que saudades…
Por volta das onze horas haviam já caçado treze pardais! Nove rolhaças, um verdilhão, dois piscos e um…pito da ninhada que a galinha pedrez trazia atrás de si!!!
Pai e filho, coniventes, muito calados e de repente, apressaram-se a esconder o pintainho morto e a enxotar a galinha e seus filhotes lá para o fundo do quintal, permitindo-lhe assim continuar com a sua jornada de caça, seu primeiro dia com costelas…
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