quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Aquela leira mesmo ao lado das suas Moitas Altas, logo depois das Terras de Riba...

… Ainda o relógio da torre da igreja de Vagos não tinha dado as seis horas e já ele pedalava a bom pedalar pela estrada de alcatrão, rumo á Cale da Vila. Ali, largaria e bicicleta e remaria numa bateira rumo á Ilha das marinhas. Fazia questão de lá estar ainda antes das seis e meia, pois queria abrir a bomba, mas antes, tinham combinado armar ali um bitron e algumas narças para apanhar um caldito, consolar a garganta e aconchegar o estômago. Assim aconteceu e quando chegou o camarada já ele moirejava com o cesto á cabeça, que o tempo estava a correr de feição e a safra prometia, carregado de cristais brancos, num frenético vai e vem, entre os tabuleiros da marinha e a pirâmide de sal que estavam a fazer, junto á casa das alfaias. Maniava-se e pedia ao camarada que fizesse o mesmo pois urgia que acabassem aquela empa para depois irem á bomba acabar “o começado”. A vida dava em querer sorrir-lhe. As colheitas eram abonadas. A família tinha saúde e, com o dinheiro desta safra, que tão bem estava a correr, iria com toda a certeza aumentar o seu pé-de-meia. Permitia-lhe sonhar UM POUCO MAIS ALTO. Aquela leira mesmo ao lado das suas Moitas Altas, logo depois das Terras de Riba, vinha mesmo a calhar para aumentar a área da sua Terra das Canas. Era como que já se visse a cavar e semear aqueles terrenos. Assim Deus o ajudasse. Que rica terra de milho, que rica esteira de batatas conseguia já enxergar naqueles terrenos, que ainda não eram dele mas viriam a sê-lo, com toda a certeza. E a “estrela” que, depois de se lhe ter vendido a cria, estava a dar tão bom leite! Era um ano de graças, sem dúvida. Deus, na verdade, não dorme e acode a quem o procura…

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