sábado, 14 de janeiro de 2012

Levantou-se e sentou-se de imediato.
Sem saber bem porquê, os rinzes não o ajudaram e uma forte dor nos quadris, de origem desconhecida, obrigou-o a estender-se novamente na cama. E logo hoje que tudo tinha tratado. Ontem á noitinha tinha estado com os outros louvados e tinham chegado a acordo relativamente ao valor a atribuir pela perca do compadre Júlio. O porco estava em quarenta e oito notas. Um sonho dum bicho. Enchia o curral de canto a canto. E tinha logo que ser nesta altura e aquele animal! Mais uns dias e… morria de morte matada, logo a seguir ao S. Martinho! Foi para isso que tinha sido criado. Mas nada havia a fazer. O albitar bem que o atacou a tempo com três injecções, mas de nada valeram. Valeram sim, valeram para aumentar o prejuízo do compadre. Raio de febre-amarela ou lá o que foi que rasou o povo todo. La se foi o governo de uma casa para o ano inteiro, Se não fosse por nada, até dizia que o compadre não andava em graça!
Era a primeira perca daquele valor que iria lançar desde que é escrivão daquele rol de valores. A sociedade com quarenta e sete sócios, abarca todas as famílias da terra e todos, mais ou menos, sentem os males que assim acontecem uns aos outros. Na última volta que deram a ver o gado avaliaram-no num valor de cento e oitenta e seis contos e trezentos e oitenta mil reis.
E o compadre, naquele sábado, que não quis que aumentassem o valor do seu gado. Que não valia a pena pois iria matá-lo daí a dias…
Ele bem que o alertou que o mal não acontece só aos outros.
Agora, que vai ele comprar com o raio das quarenta e oito notas? Porco como aquele? Nem pensar. Aquilo era bicho de ano, capaz de botar na salgadeira mais de doze arrobas de carne! Governo dum ano! Tratado com tanto afinco pela comadre…
Calhando era a perca do compadre que lhe estava a causar estes achaques. Descansaria mais um pouquito e depois rumaria á mesa da cozinha onde montava escritório, nestas ocasiões. Queria lançar a perca e dar o trabalho feito ao compadre para que ele fosse fazer a cobrança pelos sócios, amanhã, logo no fim da primeira Missa.
Ia custar muito a pagar a alguns, largara assim o dinheiro e logo nesta altura! Mesmo, mesmo junto ao S. Martinho. Aquilo foi praga rogada! Irra! É mesmo de desanimar. Nem a promessa dos pezunhos ao Santo António livraram o animal.
Lá se levantou, tomou o café e lançou-se nas contas. Cento e oitenta e seis contos e trezentos, quarenta e seis notas p’ró compadre…
Só a ele já sabia, tinha que arcar com mais de catorze notas… Irra….Mas mal por mal, antes pagar do que ter que cobrar! Tinha o seu animal no curral, o compadre recebia o dinheiro da perca mas, o governo, foi-se…

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