sexta-feira, 22 de março de 2013

Não sabes que há coisas que são tão nossas ...
... sentou-se e esperou. A mensagem chegava-lhe em surdina, uma confusão de sons indescritível e incompreensível. Eram dezenas os presentes naquela sala, situada abaixo do chão, que aguardavam como ele. Enquanto tomava notas e dizia ao papel a conversa que tinha tido com o ti Manel, ia-se apercebendo um pouco agora, outro depois, um pouco aqui, outro acolá, de acordo com os sons que lhe chegavam, o conteúdo das conversas dos companheiros de jornada. Apreensivo e desassossegado com as suas inquietações, queria lá saber o que cada um falava. Atormentava-o o desconhecimento acerca do que o deixava pensativo! E já ali estava há mais de duas horas! Mas de nada valia exasperar-se! Respirou fundo, fez uma pausa e voltou à sua conversa surda através da caneta com o caderno onde registava as ideias que lhe fluíam.
Quando casou passava já dos trinta anos. Maduro como convinha e um homem da Gandâra. Rijo e fero! Habituado ao trabalho, amava o que sabia fazer e fazia bem o que amava, realizando-se.
- Mas, fale-me do seu namoro, insisti!
Ora lá vens tu com a tua teimosia! Não sabes que há coisas que são tão nossas que nem nós mesmos sabemos bem como as fizemos? Mas está bem! Não é por mal e ode ser que te dê jeito para alguma coisa já que até parece que estás encalhado! Não penses contudo que por ser muito vivido fui um valdevinos, ou um estroina. Não. Meus pais nunca me deixaram passar fome mas amarguraram o tempo em  que à mesa se sentavam doze e treze pessoas a todas as refeições do da.
Mas voltemos à tua conversa . Quero dizer, e podes lá pôr (!?) que, se os nossos antepassados cá viessem agora, voltavam a morrer mas com a boca aberta! É verdade! Pode-se lá aceitar que os terrenos que tanto trabalho deram a desbravar estejam assim ao abandono como se vê? Tu acreditas que muitos dos que morreram sabem mais onde são as suas terras do que os herdeiros que agora as detêm?
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