quarta-feira, 3 de abril de 2013


...queres é que te fale do meu namoro...
...que se vivia com muitas dificuldades, mas nesse tempo vivia-se! E Olha quando te digo vivia-se, vibrava-se com cada dia que nascia e com cada facto que acontecia. Essas modernices que agora se vêem para aí a torto e a direito tinham lá cabimento ou eram pensadas sequer? Eu que me acho uma
pessoa que teve a dita de aprender a ler alguma coisa, capaz de acompanhar a evolução das realidades, fiquei muito admirado no outro dia em que o meu neto me veio ver e trouxe o seu rebento, já com dez anos! E admirado porquê? Em amena cavaqueira, meti-me lá com o rapaz e quis saber como corriam as coisas lá na escola. Entabulou diálogo comigo e até me babei todo só de o ouvir. Um ganabelho daqueles. Que já andava no sexto ano! Que tem boas notas a “ele pê”, a mat, a “É Vê”, a “É Vê T” e outras mais siglas que, valha-me Deus, não sei eu a que se referem.
Mas a letra dele é uma lástima. Parece o esgravatar de uma galinha choca. Vê lá tu que, com a idade dele, eu sabia lá o que eram as letras e as ciências! Sabia ler e fazer contas e só mais tarde comecei a ter conhecimento do mundo que me rodeava. Mas a minha letra era assim como que redondinha, muito certinha! Dizia a minha professora que tínhamos que ter uma caligrafia bonita pois ela espelhava o nosso interior! E não é que ela tinha razão?
Mas, lá me ia perdendo eu. O que tu queres é que te fale do meu namoro, não é? Mas eu satisfaço-te essa curiosidade. Fica já a saber que, beijar a minha mulher só aconteceu… já depois de casado! Estás para aí com essa cara de espantado porquê? Durante o namoro, muito curto diga-se de passagem, nem sequer era consentido e bem visto. Queres ver um caso que se passou? Pois bem. Noivo, noivo, nunca estive. Fui namorado declarado durante cerca de sete meses, e já foi tempo de mais! É que a confiança podia começar a ser muita e… a estopa ao pé do lume, arde!
Pois bem. Quando a minha Maria fez vinte e seis anos, ela era mais nova que eu quase sete anos, tentei dar-lhe os parabéns dando-lhe um aperto de mão. Pois ela recusou dizendo-me desabridamente: “estar parado. Arredar-vos para lá e falai que já chega de modas. Não faltava mais nada senão essa agora!” Atão!...

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