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Algumas das vezes também me calhava a mim ir com os bois puxar o barco para o mar. Por um lado era melhor pois depois os bois regressavam à abegoaria para comer e descansar, regressando ao ativo quando o barco arribasse, ficando depois preparados para serem postos ao carro e carregarem as redes e varais de cordas para aparelhar o barco para nova safra.
Aquilo é que eram rezadas de peixe! Ele era carapau, sardinha, robalos, lulas, chocos, peixe gato, peixe mola, petinga, eu sei lá. Era uma farturinha, Graças a Deus. Quantas e quantas vezes a rede estoirava com o peso que trazia! Ai a fartura que era naquela Praia nesses dias! Pois bem. Enquanto o mar estava bom, era dia sim, dia sim, e só se descansava ao domingo de tarde. Quando a comida dos bois começava a escassear, havia de se arranjar maneira de ou ir algum carro de bois do Seixo á Praia, carregado com comida para os animais, ou vinha uma junta ao Seixo e carregava a comida que se aprontava para que aquele que fizesse a deslocação, não perdesse tempo. Vinha-se ao seixo e regressava-se á Praia no mesmo dia!
O caminho era sempre o mesmo. Saía-se da Praia, da zona da Capela, e vinha-se pela estrada até á casa do Guarda Florestal da Videira. Ali rumava-se pela estrada florestal cerca de duzentos metros, para norte, e apanhava-se um aceiro que vinha desembocar na outra estrada florestal pela qual se vinha até á zona das Castinhas. Logo que se passava a vala que vinha do Palhal, cortava-se em direção aos Ribeiros e por ali se seguia até chegar á beira dos palhais e depois ao Seixo. O regresso era o inverso. Por ali se passavam umas largas horas para homens a animais.
É claro que havia tempo para tratar convenientemente o gado. Não havia era tempo a perder. E podia não haver tempo para permitir o descansar de uma criança de oito anos. Olha que os bois chegavam a comer e beber com a canga no cachaço! E a mim, ás vezes, apetecia-me mais estar deitado do que comer o que havia para comer! Sabe Deus as vezes a eito que eu ia com os bois da duna á linha da água, a passo largo, e da linha de água (maré) ás dunas, os bois com os músculos fortemente retesados pelo esforço que lhe era imposto na tração que tinham que fazer para a recolha da rede, enfileirando com outras cindo juntas de bois de cada lado, em cada um dos barais de corda unidos ás mangas da rede, sempre num ritmo cadenciado e certo. Ai quantas vezes os boizinhos arriavam com os joelhos das mãos em terra, como que a rezar, para fazerem deslocar aquele peso medonho que era a rede e peixe que arrastava pelo fundo do mar infindo…
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