Era necessário salvar a família!
…podes rir-te, mas vai ouvindo, assim me saudou o Ti Manel logo que me viu chegar num esgar sorridente!
…podes rir-te, mas vai ouvindo, assim me saudou o Ti Manel logo que me viu chegar num esgar sorridente!
Irmão mais velho de uma família com sete filhos, ainda não sabia bem o caminho de casa para casa do Ti Afonso, sitio onde funcionava a escola e onde lecionava o professor Silvaninho, e morava muito perto, quando meu pai comprou uma junta de bois a meias.
Como era isso das meias, interroguei-o.
Olha não se parecia com nada! Só um necessitado e em último recurso se valia de tais negócios e realizava tais acordos. Mas era uma maneira de singrar, a custo, claro, na vida. O meu pai lá falou com um compadre e compraram uma junta de bois, uma canga, um carro, um arado, um rodo, uma grade e uma charrua. Durante o inverno e até haver atividade na pesca, andava a carrear e a lavrar e preparar os terrenos para a agricultura. No tempo mais e quente, ali pela Primavera, lá se desterravam os bois para a Praia para a companha do Xico. Foi isso mesmo que me aconteceu. Saí da escola para ir guiar os bois, dias a fio, para a pesca para a praia.
Teria eu os meus oito anos. O que queria era brincar com os demais rapazes e com os meus irmãos, mas…
Era necessário salvar a família!
Salvar a família? Retorqui incrédulo.
Sim, salvar a família da fome. Aquilo eram outros tempos. Pois claro, salvei-os da fome, que era tanta, Graças a Deus. O trabalho de uma criança com oito anos de idade foi a diferença entre haver pão na mesa todos os dias e passar fome como Deus permitia, naquela casa.
Com aquela idade era eu quem tirava os bois da abougaria, quem os levava para fora e lhes punha a canga no cachaço. Era eu quem lhe carregava as gabelas de palha, para a manjedoura, que meu pai ali ia depositando, arrumada em feixes, encostados à parede, do lado de fora. Era eu quem os levava até á pia e lhes dava a água de que necessitavam para matar a sede e estarem preparados para andar abaixo e acima durante três horas, e muitas das vezes mais, de cada vez que o barco arribava e tinha que se fazer por tirar a rede do mar...
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