segunda-feira, 4 de maio de 2015

Tanta gente sua conhecida e junta num espaço tão pequeno!


… Sem saber bem os motivos, deu por si junto ao portão que permitia o acesso ao interior daquele espaço. Espreitou lá para dentro e assim permaneceu alguns segundos, qual eternidade das vidas ali resumidas.

Entrou vagarosamente e vagarosamente percorreu o corredor central, observando com o máximo de minúcia as caras que lhe iam surgindo, quer á direita, quer á esquerda. Em todos e cada um daqueles espaços havia gente com quem conviveu, gente com quem trocou falas, gente a quem saudou e por quem foi saudado! Gente que com ele riu. Gente que o consolou nas suas mágoas e tristezas e a quem deu alento nas horas de amargura! Alguns até andaram com ele ao colo! Que saudades das sua presença física! Acorria-lhe á lembrança um turbilhão de memórias, fatos felizes e menos bons que viveu. Tanta gente sua conhecida e junta num espaço tão pequeno!

Não! Não podia de forma nenhuma ficar deprimido com estas recordações. Assumiu que o que ali o levou foi exactamente visitar os amigos que nesta ultima morada se encontram. Sabe, e di-lo feliz, que todos o esperam mas vai protelando e arranjando motivos que o levem a adiar a viagem…

Mal entrou naquele campo elevou os olhos e permaneceu em silêncio orante, como que pedindo licença para interromper as actividades em curso: o repouso eterno dos amigos! Não lhe ocorreu nada mais que o Pai Nosso, e assim silencioso, o pronunciou mentalmente, repetindo cada pedido duas e três vezes… disse de forma rápida o “venha a nós o vosso reino…” e demorou-se um bom bocado a pronunciar “o pão nosso de cada dia nos dai hoje…” repetindo depois com profunda convicção “perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos…”

Ao rezar, ia lembrando todos quantos ali estavam retratados estando convicto de que, por cada um deles, pronunciou aquela oração…

 

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