sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Como se o tempo fosse coisa de que se pudesse dispor!

Passei pelas Crastas, devagarinho, e entristeci ao ver como estão as terras e o que ali já foi há anos atrás. De toda aquela área, dezenas de hectares, há uma só terra, talvez meio hectare, está ainda em cultivo. Algum teimoso que não sabe fazer outra coisa e se vai “divertindo” fazendo o que sempre fez, da forma que lhe ensinaram e se recusa a renovar ideias. Tudo o resto, em todo o alcance da vista, são pinheiros e eucaliptos numa imensidão imensurável. E pus-me a lembrar a fisionomia dos que recordo que ali trabalharam. São tantos! Todos aqueles terrenos eram cavados à enxada ou lavrados por juntas de bois e/ou vacas e depois semeados â mão. Entre-ajudavam-se trocando tempo!
Como se o tempo fosse coisa de que se pudesse dispor!
É claro que não, mas dele se tirava proveito e partido: vou para ti cavar, vens para mim cavar. Vou para ti semear, vens para mim semear. Ela por ela. E assim os trabalhos se tornavam menos pesados, as amizades se fortaleciam as sementeiras se tornavam em novidade e as pessoas iam falando de si, do tempo, dos outros, fazendo previsões, futurando casamentos, lamentando doenças e mortes e, dividindo afazeres multiplicavam valores sociais, humanos e económicos.
Tudo se trocava. A todos se ajudava. Chegavam a pedir “tiços” ou mesmo e só uma brasita, para acender o lume noutra casa, gastando-se assim um só fósforo para atear o lume em duas, três e mais casas em cada dia
Era o sino da torre que a todos chamava. Marcava horas para dar inicio e terminar trabalhos. Chamava à oração! Gritava por socorro e auxílio tocando a rebate. Juntava as pessoas para o bem e para o menos apetecível e agradável com o seu toque altaneiro…

O respeito era sagrado. Mesmo na limpeza das extremas entre terras as enxadadas de terra que s tiravam do fundo destas eram colocadas ora dum lado, ora do outro para não prejudicar nenhum dos exploradores do terreno, pois ela tinha caído de ambas as terras de cada lado da extrema…

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