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Passei pelas Crastas, devagarinho, e
entristeci ao ver como estão as terras e o que ali já foi há anos atrás. De
toda aquela área, dezenas de hectares, há uma só terra, talvez meio hectare,
está ainda em cultivo. Algum teimoso que não sabe fazer outra coisa e se vai “divertindo”
fazendo o que sempre fez, da forma que lhe ensinaram e se recusa a renovar
ideias. Tudo o resto, em todo o alcance da vista, são pinheiros e eucaliptos
numa imensidão imensurável. E pus-me a lembrar a fisionomia dos que recordo que
ali trabalharam. São tantos! Todos aqueles terrenos eram cavados à enxada ou
lavrados por juntas de bois e/ou vacas e depois semeados â mão.
Entre-ajudavam-se trocando tempo!
Como se o tempo fosse coisa de que se
pudesse dispor!
É claro que não, mas dele se tirava proveito
e partido: vou para ti cavar, vens para mim cavar. Vou para ti semear, vens
para mim semear. Ela por ela. E assim os trabalhos se tornavam menos pesados,
as amizades se fortaleciam as sementeiras se tornavam em novidade e as pessoas iam
falando de si, do tempo, dos outros, fazendo previsões, futurando casamentos,
lamentando doenças e mortes e, dividindo afazeres multiplicavam valores
sociais, humanos e económicos.
Tudo se trocava. A todos se ajudava.
Chegavam a pedir “tiços” ou mesmo e só uma brasita, para acender o lume noutra
casa, gastando-se assim um só fósforo para atear o lume em duas, três e mais
casas em cada dia
Era o sino da torre que a todos chamava.
Marcava horas para dar inicio e terminar trabalhos. Chamava à oração! Gritava
por socorro e auxílio tocando a rebate. Juntava as pessoas para o bem e para o menos
apetecível e agradável com o seu toque altaneiro…
O respeito era sagrado. Mesmo na limpeza
das extremas entre terras as enxadadas de terra que s tiravam do fundo destas
eram colocadas ora dum lado, ora do outro para não prejudicar nenhum dos
exploradores do terreno, pois ela tinha caído de ambas as terras de cada lado
da extrema…
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