segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Tristeza ou ausência de alegria?

Angustiado!
Prova o saber amargo da água com sal diluído que brota das fontes da alma sem motivo aparente.
Na verdade há vinte que entrou nos entas e embora lhe não faltem forças nem vontade sente que a envolvência se encontra cansada da presença tão assídua.
Meio século e dez!
Que fez? Porque está ainda aqui? Diz bem alto que não fez tudo o que quis, mas quis muito a tudo o que fez!
E se fosse hoje o início?
Pára absorto nesta cogitação esquisita que parece querer incomodá-lo. Nada do passado o incomoda mas começa a ficar apreensivo relativamente ao futuro.
Mas é claro que com esta idade ainda tem projetos. Projetos e garras de continuar a sonhar. Apetece-lhe gritar que há quarenta que está nos vinte! (!!!) Tal a ânsia que tem de viver, de se realizar pessoal e socialmente. Não se sente cansado. O corpo ainda não se queixa de eventuais maus tratos que lhe tenha infligindo. Os achaques que se vão manifestando vão-no ensinando a dar a volta e, sem desânimo, muitas das vezes recuar para apanhar balanço e dar o salto. Assim tem sido durante os últimos tempos. Nunca soube o que era vida fácil nem tão pouco facilitada! Com pouco farelo tem feito as papas que o veem alimentando e aos seus. Ainda não deu para provar a boa farinha. Calhando será esse o objectivo a atingir: A curto? A médio? A longo prazo? O tempo o dirá!
E aqui começa realmente a sua preocupação. Que lhe reservará o futuro? Ainda bem que o não sabe. Assim vive intensamente cada dia como se não houvesse mais fim, deste tirando proveito total e tornando cada segundo único e irrepetível. Vendo as coisas de outra forma, que terá ele feito para merecer a felicidade que o invade e inunda? A quem serviu e com que forças? Terá feito tudo o que estava ao seu alcance? Que merecimentos serão estes que se concretizam nesta alegria constante e forte vontade de viver mesmo tendo quase a certeza de já não ter outro tanto tempo para viver e usufruir deste mundo?
Sessenta anos de vida. Tantos acontecimentos e voltas dadas pela sociedade. Tanta gente com quem viveu e conviveu. Tanta gente de quem se recorda com alegria e saudade!
Tristeza ou ausência de alegria? Doença ou ausência de saúde e bem-estar? Pobreza ou ausência de riqueza? Vazio ou ausência de recheio? Isolamento ou ausência de amor e diálogo? Mentira ou ausência de verdade? Morte ou ausência de vida? Desinteresse ou falta de capacidade para querer e fazer? Ausência ou isolamento voluntário e desânimo associado à falta de objectivos? Falta de objectivos ou desinteresse pela vida? Desinteresse pela vida ou falta de objectivos concretizáveis? Obstáculos constantes ou ausência de trampolins? Negativismo ou desconhecimento da realidade?

Não desperdiça. Nunca desperdiçou o que sabe! Transmite-o para se perpetuar. O mesmo faz ao seu tempo: vive-o para o apreciar! Há direitos e deveres. Sempre optou e cultivou os segundos mesmo abdicando dos primeiros, pois a felicidade plena insere-se no grupo dos segundos. Ninguém tem o direito de ser feliz: Todos temos o dever consagrado de ser e fazer felizes os outros!

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