segunda-feira, 13 de março de 2017

um bocado de tábua...uma cana da índia

Mas voltemos à conversa. Quando lá cheguei, já o professor lá estava. Via-se bem que era entradote na idade. Talvez mais de sessenta anos. Cabelos
brancos, magro, com rugas na cara toda, enfiado dentro dum fato azul escuro e de camisa às riscas. Fomos chamados prá sala e os primeiros objetos com que encarei foi com um bocado de tábua, estreito e comprido, em cima da mesa do professor e com uma cana da índia, muito comprida, encostada ao quadro preto, grande, pregado à parede, mesmo por baixo do Crucifixo e… uma caixa de madeira, alta, cheia de rolos de papel, embrulhados e atados com um atilho de tecido. Havia ainda um almairo com portas de vidro e com muitas coisinhas lá dentro. Até pareciam brinquedos!
Muito a medo lá fomos entrando, devagarinho, atrás dos mais velhos, e fomo-nos sentando, dois em cada carteira, que era mesa ao mesmo tempo e tinha o tampo inclinado a descair para nós.  A mesa do professor estava em cima de um estrado de tábuas, se calhar era por ele ser ao pequeno, pensava eu… Lá fechou a porta, esteve a falar connosco, sempre a mandar-nos calar e a dizer como queria que a gente se comportasse. Queria que fossemos todos muito bons alunos. Que aprendêssemos bem a ler e a escrever, com letra muito bem feitinha e que soubéssemos a tabuada de cor e salteado, da frente para trás e de trás para a frente. Não me pareceu que fosse uma tarefa muito difícil de fazer! Mais difícil de fazer era cumprir s tarefas que os meus pais me pediam e mandavam fazer: carregar gabelas de lenha e grafados de pasto ou palha para tratar do gado. Dar as voltas em casa era mais duro e eu já fazia isso muito bem.
Não sei o tempo que estivemos na sala, o que sei é que o professor nos mandou pró recreio e nós fomos logo, todos contentes.

Quando entrámos outra vez, reparei que estavam umas garatujas brancas no quadro preto que saíram quando o professor lhe passou com um bocado de madeira por cima delas…

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