terça-feira, 15 de março de 2022

 … Todos são muito ciosos daquilo que é seu (herdado e/ou comprado com muitas dificuldades), muitas das vezes as modernas máquinas agrícolas não podiam ser utilizadas nos terrenos, de diminuta dimensão, para lhes dar o necessário arranjo, preparando-os para a sementeira, daí que a enxada fosse um utensílio agrícola muito usado para cavar, á manta ou a releicho, com estona e a tirar dente, dando aos terrenos o necessário arejamento e consequente oxigenação.

Têm forçosamente que ser estrumados e adubados, enriquecidos assim com o húmus e azoto para melhor responder às exigências, em termos de produção, que lhe são feitas! Ensinamentos transmitidos de geração em geração, oralmente e depois, já na idade de ir p’rás terras, na prática. Era assim que faziam já os Pais, Avós, Bisavós, etc., etc. Todos estavam ligados á terra que só produz á custa de muito trabalho e suor.

Durante os meses de Fevereiro e Março, o monte de esterco que havia sido carregado para as terras e amontoado numa das extremidades do terreno, onde havia sido “caldeado” com moliço da Ria, agulhas secas e esterco que havia sido retirado dos currais do gado, tendo servido para lhe “fazer as camas” era dividido e carregado para toda a terra, colocado em montes pequenos ao meio desta no sentido da largura, em espaço onde previamente estonado, deixando a terra nua e crua no sítio onde era descarregada a carrada, alinhados em todo o comprimento e distantes uns dos outros de cerca de quatro, cinco metros, qual fileira de “montes de esterco”, correspondendo o seu tamanho a uma carrada de carro de vaca ou de dois bois.

Depois deste trabalho, feito normalmente pelos homens, as terras eram cavadas com enchadas, por homens e mulheres, formando ranchos em troca de tempo que, manta a manta, reviravam o terreno, depois da estona, cavando á rasa, a releicho ou a manta, de acordo com a finalidade pretendida, tendo em conta a cultura que estava destinada nessa altura para o terreno.

Chegados ao pé dos montes de “esterco”, passavam-nos para trás, para a terra cavada e continuavam a cavar.

Se a sementeira prevista na terra a cavar eram as batatas, quando o rancho era grande e já estava cavada uma porção considerável de terreno, muitas das vezes passava para a parte de trás um grupo de pessoas, nunca inferior a quatro, podendo neste trabalho ser aproveitada uma criança para desempenhar uma função e permitir maior rendimento de trabalho dos adultos. Das quatro pessoas que passavam para a sementeira, uma era a que, munida de um cesto de vime, carregava o esterco dos montes para o corte e o dividia em camada uniforme pelo corte ou carreiro. Outro puxava terra com as mãos para cima do esterco e colocava a semente sobre esta. Outro ainda, eventualmente a criança, munida de um boaneiro, ia colocando pequenas pitadas de adubo (uma mistura de amónio e potassa), sobre o esterco, entre as talhadas da batata, mas nunca muito próximo destas e finalmente, a última, era o alagador que, munido de uma enchada de cem mil réis, ía alagando, cobrindo com terra a semente, deixando assim aberto novo sulco ou carreiro, tapando o primeiro para repetir todo o ritual, quase automático, de cada uma das pessoas que andavam neste corte...

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