terça-feira, 16 de julho de 2024

 

“ …Olha que eu falei em casar e a primeira coisa que o meu pai me disse foi “quem casa quer casa, portanto, trata lá de falar com ela e digam onde querem erguer o vosso lar pois ajudar-vos isso vamos mas interferir, não contem connosco”! Mas espera aí. Quem é a cachopa?

Lá fui obrigado a abrir o livro dos segredos e deixá-lo ler algumas páginas. Tu não me digas que andas de namoro coa filha do Castelhano. Tu toma tento nessa cabeça. Aquilo é gente de respeito e nós também somos dados a ele.

Então fique a saber que sexta-feira à noitinha, vamos lá a casa deles que eu quero pedir a Maria em casamento. Já falei com ela e estamos de acordo.

Desde essa conversa o Ti Manel tudo fez para se encontrar com o Castelhano em ponto de poder tocar no assunto, mas nunca surgiu oportunidade para tal.

No dia aprazado, dadas as voltas em casa, Ti Manel, mulher e filho, vestidos mais adonairadamente, dirigiram-se a casa do Castelhano, tentando fazer o percurso por caminhos que dessem menos nas vistas pois não queriam dar a conhecer as intenções.

Já a Maria, o pai e a mãe estavam como que a fazer tempo, com tudo pronto, voltas dadas, panela ao lume, mesa posta, à espera de tão ilustres personagens.

Que raio, iriam ser compadres pois os filhos iriam casar!

Feitos os cumprimentos da ocasião e enquanto os homens se dirigiram à adega provar um parreirol, as mulheres, timidamente meteram-se com a cachopa a tentar tirar nabos da púcara, para saber se já tinha acontecido alguma coisa ou se o namoro era sério e como convém a gente honrada. A rapariga, corada, descansou-as, dizendo que nada fizeram que não pudessem ter feito na frente fosse de quem fosse, mas que não tinham querido namorar à frente de toda a gente. Queriam conhecer-se e falar do amanhã em comum. Queriam dar os passos certos no tempo certo.

Chegados os homens, o Ti Castelhano convidou para a mesa, pediu ao “Parceiro” que se sentasse ao seu lado e os “Cachopos” na outra ponta da mesa. As mulheres sentar-se-iam onde quisessem…

Panela na mesa, picheira de parreirol a vazar-se bem, de tudo falaram, menos de casamentos! Até que que, Manel e Maria, pedindo licença aos pais, deram a conhecer as suas intenções e que gostavam de saber as opiniões deles.

Concordaram com o casamento, claro e logo ali deram início à conversa acerca do dote que poderiam dar-lhe.

Ti Castelhano, brioso, enaltece e oferece: A minha cachopa leva duas baleiras! “Olhar que naquilo muitos queriam por a mão, mas cedo decidi que seria ela a mandar. Dou-lhe o Coroal para assantamento. Aquilo é coisa asseada!

Assim sendo o meu rapaz leva madeira rija, dos pinheiros do Samoical, para serrar e aparelhar pró que for preciso;

A minha Maria leva também o rego dágua, terra forte e boa embora esteja dividida pela vala que ali escorre…

Falei ca Comadre e também vamos deixar que o rapaz fique com a Pichota, que embora seja pequena, tem um bom poço;

O meu pai, a mangar ou a sério, já aqui há tempos lhe pôs á disposição a borda das olarias. Nunca foram exploradas e tem areia de primeira qualidade e espaço suficiente para fazer o barreiro;

Havemos de ir à cal. Temos os Fornos, o Barracão, O Zambuzal. A do Barracão parece que estala muito…

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