…pouco passava das seis horas e
meia da manhã e já se ouvia o baque surdo que saía pelo telhado do espaço
daquela casa, que tudo indicava que fosse a cozinha. Sabia e conheci muito bem
quem lá vivia, mas nunca me atrevi a ir “bisbilhotar” a origem daquele ruído e
efeitos que se pretendiam.
Nesse dia, acordei um pouco
mais cedo e fiquei a fazer tempo para ouvir os baques que tanto ansiava,
Pouco tardou.
Pelas frinchas das telhas
marselha que cobriam o espaço, colocadas diretamente sobre as ripas e sem
qualquer forro, surgiu uma ténue luz, muito amarelada, tremeluzindo e dando
vida ao espaço em causa.
Sai de minha casa, percorri o
caminho que me separava da casa para onde me dirigia e, sem anúncios, abri o
portão, que normalmente estava destrancado, para permitir a entrada franca a
todo e qualquer um que ali se dirigisse.
Estava aberta a porta da
cozinha, situada ao lado do curral das vacas, existindo entre as duas divisões,
um telheiro que albergava o forno onde se cozia a broa, todos os sábados.
E lá estava ele! Sentado num
banquito de madeira, tamancos calçados nos pés, pernas abertas, e sobre a
grelha de ferro uma panela de folha, para cozinhar aos porcos e uma cafeteira
com água para ferver e fazer o café.
Sob a grelha ardia já uma pinha
e, Ti Manel, com uma enchó na mão direita e um rachão na mão esquerda, ia dando
machadadas naquele para fazer aparas, transformando-o em pedaços mais pequenos
e atiçar mais rapidamente a fogueira, debaixo da panela e da cafeteira. A Maria
já andava pelos currais a tratar do gado miúdo, aguardando que ele a chamasse
para tomar o café. Tinha á sua beira também um grafado de trancas e gravetos e,
encostado ao canto do borralho, uma gabela de agulhas para acender o lume e o
forno, mais logo à tarde para cozer a broa para a semana.
Fogueira bem acesa, água
colocada na cafeteira, colocou-a junto à panela que se encontrava já cheia de
batatas, couves, abóbora cortada aos bocados e água, afim de que esta recebesse
também o calor necessário para que a água fervesse e pudesse juntar-lhe uma
colherada de pó, de café do bom, que mal caía na água, logo exalava um
cheirinho que se espalhava por toda a casa.
Chamou pela Maria, que já tinha
feito as camas ao gado graúdo e tinha-lhe posto na “majadoira” um grafado de “carapitas”,
a que as vacas e a bezerra se atiraram logo.
Levou a lavagem para a pia dos
porcos, pôs-lhe umas engaçadas de agulhas nas camas, cortou-lhe meia dúzia de
beterrabas, colocando-lhas na pia, e dirigiu-se à casa da arrumação donde tirou
meio crivo de milho da caixa, e levou para a cerca das galinhas.
Aproveitou os sete ovos que
estavam no ninheiro e foi ter com o seu homem para tomar o café e chamar os
filhos para que se arranjassem e fossem para a escola.
A Maria iria com o taleigo á
cabeça, cerca de uma arroba de milho amarelo, ao moinho do ti Artur, afim de o
trocar por fina farinha e assim poderem cozer a broa, à noite…
…
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