segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

 

…pouco passava das seis horas e meia da manhã e já se ouvia o baque surdo que saía pelo telhado do espaço daquela casa, que tudo indicava que fosse a cozinha. Sabia e conheci muito bem quem lá vivia, mas nunca me atrevi a ir “bisbilhotar” a origem daquele ruído e efeitos que se pretendiam.

Nesse dia, acordei um pouco mais cedo e fiquei a fazer tempo para ouvir os baques que tanto ansiava,

Pouco tardou.

Pelas frinchas das telhas marselha que cobriam o espaço, colocadas diretamente sobre as ripas e sem qualquer forro, surgiu uma ténue luz, muito amarelada, tremeluzindo e dando vida ao espaço em causa.

Sai de minha casa, percorri o caminho que me separava da casa para onde me dirigia e, sem anúncios, abri o portão, que normalmente estava destrancado, para permitir a entrada franca a todo e qualquer um que ali se dirigisse.

Estava aberta a porta da cozinha, situada ao lado do curral das vacas, existindo entre as duas divisões, um telheiro que albergava o forno onde se cozia a broa, todos os sábados.

E lá estava ele! Sentado num banquito de madeira, tamancos calçados nos pés, pernas abertas, e sobre a grelha de ferro uma panela de folha, para cozinhar aos porcos e uma cafeteira com água para ferver e fazer o café.

Sob a grelha ardia já uma pinha e, Ti Manel, com uma enchó na mão direita e um rachão na mão esquerda, ia dando machadadas naquele para fazer aparas, transformando-o em pedaços mais pequenos e atiçar mais rapidamente a fogueira, debaixo da panela e da cafeteira. A Maria já andava pelos currais a tratar do gado miúdo, aguardando que ele a chamasse para tomar o café. Tinha á sua beira também um grafado de trancas e gravetos e, encostado ao canto do borralho, uma gabela de agulhas para acender o lume e o forno, mais logo à tarde para cozer a broa para a semana.

Fogueira bem acesa, água colocada na cafeteira, colocou-a junto à panela que se encontrava já cheia de batatas, couves, abóbora cortada aos bocados e água, afim de que esta recebesse também o calor necessário para que a água fervesse e pudesse juntar-lhe uma colherada de pó, de café do bom, que mal caía na água, logo exalava um cheirinho que se espalhava por toda a casa.

Chamou pela Maria, que já tinha feito as camas ao gado graúdo e tinha-lhe posto na “majadoira” um grafado de “carapitas”, a que as vacas e a bezerra se atiraram logo.

Levou a lavagem para a pia dos porcos, pôs-lhe umas engaçadas de agulhas nas camas, cortou-lhe meia dúzia de beterrabas, colocando-lhas na pia, e dirigiu-se à casa da arrumação donde tirou meio crivo de milho da caixa, e levou para a cerca das galinhas.

Aproveitou os sete ovos que estavam no ninheiro e foi ter com o seu homem para tomar o café e chamar os filhos para que se arranjassem e fossem para a escola.

A Maria iria com o taleigo á cabeça, cerca de uma arroba de milho amarelo, ao moinho do ti Artur, afim de o trocar por fina farinha e assim poderem cozer a broa, à noite…

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