terça-feira, 8 de julho de 2025

 ... está o milho com altura bastante e mesmo a pedir para ser desbastado e “achegado” e abertas as regadeiras, pois o verão já se adivinha e, desta terra, terá que sair o sustento para um ano de toda a casa. Uma das caixas leva sessenta alqueires e a outra, embora mais pequena, precisa de quarenta e oito para ficar cheia. O milho está amarelito, queira Deus que não apanhe arejo e tudo se há-de arranjar, pois logo na primeira rega vamos “botar-lhe o buano” apropriado e ele dará o salto. Mas, vamos lá abrir as regadeiras.

Primeiro e á frente de todos, arranca alguém a desbastar os pés de milho: torna-se além de útil, necessário fazer uma escolha dos melhores pés de milho, deixá-los ficar e protegê-los, arrancando os mais próximos para que não impeçam ou dificultem o seu crescimento. Assim cada pé de milho terá as condições próximas do ideal para produzir o máximo de espigas e o melhor grão. Temos também que arrancar as ervas daninhas que se encontram próximo do pé de milho: erva vime, castanhol, figueiras do inferno, etc. Nada pode dificultar ou impedir o seu livre, espontâneo e desejado crescimento. De imediato, vamos deitar o “buano” de maneira que possa ser tapado pela terra que vai ser movimentada no “achegar o milho”.
No trabalho de realizar as regadeiras, é preciso ter cuidado para que a enxada nem corte as raízes do milho, nem o moleste demasiado, colocando-lhe, no entanto, a terra junto do pé para lhe garantir mais segurança no crescimento e depois suportar melhor quer os ventos, quer o peso da palha e das espigas, que se espera e deseja que sejam muitas e graúdas…
Entre carreira e carreira de milho, passará a pessoa que, de enxada nas mãos dando-lhe uma ligeira inclinação alternadamente para um lado e para o outro, andando “ás arrecuas”, vai puxando a terra de modo a fazer um rego largo e relativamente fundo, movimentando as areias e, desta forma, arrancando as ervas daninhas que nasceram entre as carreiras dos pés de milho. Os cômoros que inicialmente foram feitos pelo arado quando se fizeram os regos para a sementeira, passam agora a ser os sítios por onde se vai encaminhar a água para a rega do milho: as regadeiras.
Cada regadeira tem entre cinco a seis metros de comprimento. A um conjunto de regadeiras com este comprimento e na totalidade da largura da terra semeada dá-se o nome de um través.
Sensivelmente a meio da largura terra, far-se-á uma regadeira com valados mais altos e reforçados, desde o poço e até ao fim da terra de milho. (bastas são as vezes que esta regadeira serve também para encaminhar a água que, tirada do mesmo poço e pelo mesmo modo, irá regar outras terras de milho situadas no topo da terra onde o poço se situa) Vai designar-se de “cavalo” e por ela escorrerá a água saída da “almace”, que por sua vez a recebe dos alcatruzes, parte integrante do engenho que, movido pelo andamento constante de um animal bovino, de trabalho, boi ou vaca, ligado a este pelo cambão, ali roda horas a fio, dias sem conta, com os alcatruzes numa volta infindável, de baixa, mergulha, volta e trás, constantemente água para a almace e desta para o tubo de passagem, saindo depois para o inicio do cavalo onde, mãos e pés de criança desfazem “lavam as agulhas e mato, impregnados com dejetos dos bois e vacas, esterco dos currais” ou barro, para que o cavalo nas suas paredes ganhe um lodo fixo que impeça ou dificulte a penetração da água e consequente perda desta no terreno. Quantas vezes imediatamente depois de sair da escola, se agarrava no “cesto e nas trolhas” e se ia no encalço dos rodados de carros de bois ou de vacas na esperança de encontrar “bosteiras” para usar na rega ou acumular sobre montes de agulha e produzir fertilizante ecológico, assim se chama… era a empreitada deixadas às crianças: tens de juntar duas ou três cestadas, por dia!...

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