quarta-feira, 2 de julho de 2025

 

Houve tempo para embarcar numa viagem, curta, ao passado! Andei por Vale Matança, Varrozelha, Murta e por Beja, integrando os Ranchos do Ti Domingos Lopes e do Ti Joaquim Artilheiro, do Ti João Maria Doca (Estive com eles na roça e arrozais do José Marcelino até que lhes faltou a farinha!) fui ás olarias, e por lá vi andar o Ti Aurélio Redondo, o Ti Arménio Rocha, o Ti Albano do Russo, o Ti João do Carvalho… Fui depois até ao Judeu dos Olivios no Alto das Fontes e dei por mim em amena cavaqueira com o Ti Manel, mesmo junto á réplica do Judeu colocado na Rua dos Moliceiros, logo ali, ao lado do Centro Social Paroquial e ao Parque de Merendas de S. João.

Que gratas imagens guardo da euforia da “entronização” do judeu, do seu transporte desde o local do fabrico, da construção em adobe da sua base, do bonito que ele ali ficou e do ar de graça que davam as suas velas enfunadas pelo vento que as fazia mover quando soprava dos lados da Barra!

Que orgulho manifestava o Ti Daniel olhando para a obra feita e que descrições fazia daquilo que se recordava dos tempos de então. A que amigáveis discussões assisti, contendas entre familiares, acerca da necessidade de ver corrigidos alguns pormenores no feitio do moinho em causa. As partes lá teriam a sua razão, mas falavam de coisas diferentes … mas que era bonito, lá isso era. Por fora, além de moinho (sim porque no seu interior nada havia!) era para quem o observava um veículo que nos transportava no tempo e permitia uma volta pelos lugares mais próximos do Seixo, em romaria aos sítios onde outrora estiveram em actividade moinhos (de água e de vento) e azenhas. Para aqueles eram carregados os taleigos de milho que eram recuperados na Sexta-feira á noite ou no sábado de manhãzinha, tendo em vista a fornada que se faria ao sábado á noite e que teria que dar para a semana inteira. Mais recentemente já assistíamos á recolha dos taleigos, porta a porta, em carro puxado por um boi, por gentes que moíam nos moinhos do Casal de S Tomé ou outros existentes ao longo da Veia Real (Moinhos do Arraial, Moinhos da Areia, Moinhos da Lagoa, Moinhos do Praina, Moinhos da Fazendeira…), curso de água que, com origem nos Olhos da Fervença, encaminhava aquele líquido até ao nosso braço da Ria de Aveiro. Chegados ao Moinho, descarregavam os sacos (taleigos) com o milho a um canto do moinho, e voltavam a carregar o carro do boi com os taleigos das pessoas que moravam na volta que iriam dar no dia seguinte, descontada que estava a maquia, para pagamento do seu trabalho. E o ritmo diário era sempre o mesmo, alterando simplesmente os locais de passagem para servir um maior número de interessados.

“Mas voltemos ao nosso Judeu. A força do vento e os efeitos do tempo que não pára, vão roibando a resistência aos materiais que corporizam o dito monumento e fazendo com ele aparente estar velho. Por duas vezes já os seus efeitos se fizeram sentir fortemente. Da primeira vez, as velas rotas e abandonadas, foram substituídas e recolocadas e alguns dias houve em que a vida voltou àquele espaço com o vento que ali se fez sentir sobre elas, mesmo girando em sentido inverso àquele que deveria girar (calhando união dos baraços á espia e madeira contrária ao que deveria ser, digo eu, leigo na matéria!). Mais recentemente, estou em crer que pelos mesmos motivos e com a mesma origem (as forças da natureza e o tempo que corre…) apareceu partido o eixo, suporte das velas, e caído junto ao corpo do moinho, qual membro decepado dum corpo indefeso e sem proteção, ali ficando durante alguns dias até que alguém o retirou e fez transportar para local onde vai, concerteza, ser recuperado e posteriormente reposto. Aproveitando a acção contínua e incontida dos elementos da natureza, alguém, mesmo por cima da fechadura, e dado que a madeira da porta é pouco resistente, abriu um óculo, para observação do interior do moinho. Chegou a falar-se em utilizar aquele espaço para efectivar uma exposição fotográfica relacionada com o ciclo do milho, do trigo, do centeio, da cevada… e tantos outros cereais outrora cultivados nos terrenos agrícolas que circundam o Seixo, pelas suas gentes … (Enganei-me! o Judeu, foi-se!)

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