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Houve tempo para
embarcar numa viagem, curta, ao passado! Andei por Vale Matança, Varrozelha, Murta
e por Beja, integrando os Ranchos do Ti Domingos Lopes e do Ti Joaquim
Artilheiro, do Ti João Maria Doca (Estive com eles na roça e arrozais do José
Marcelino até que lhes faltou a farinha!) fui ás olarias, e por lá vi andar o
Ti Aurélio Redondo, o Ti Arménio Rocha, o Ti Albano do Russo, o Ti João do
Carvalho… Fui depois até ao Judeu dos Olivios no Alto das Fontes e dei por mim
em amena cavaqueira com o Ti Manel, mesmo junto á réplica do Judeu colocado na
Rua dos Moliceiros, logo ali, ao lado do Centro Social Paroquial e ao Parque de
Merendas de S. João.
Que gratas imagens
guardo da euforia da “entronização” do judeu, do seu transporte desde o local
do fabrico, da construção em adobe da sua base, do bonito que ele ali ficou e do
ar de graça que davam as suas velas enfunadas pelo vento que as fazia mover quando
soprava dos lados da Barra!
Que orgulho
manifestava o Ti Daniel olhando para a obra feita e que descrições fazia
daquilo que se recordava dos tempos de então. A que amigáveis discussões
assisti, contendas entre familiares, acerca da necessidade de ver corrigidos
alguns pormenores no feitio do moinho em causa. As partes lá teriam a sua
razão, mas falavam de coisas diferentes … mas que era bonito, lá isso era. Por
fora, além de moinho (sim porque no seu interior nada havia!) era para quem o
observava um veículo que nos transportava no tempo e permitia uma volta pelos
lugares mais próximos do Seixo, em romaria aos sítios onde outrora estiveram em
actividade moinhos (de água e de vento) e azenhas. Para aqueles eram carregados
os taleigos de milho que eram recuperados na Sexta-feira á noite ou no sábado
de manhãzinha, tendo em vista a fornada que se faria ao sábado á noite e que
teria que dar para a semana inteira. Mais recentemente já assistíamos á recolha
dos taleigos, porta a porta, em carro puxado por um boi, por gentes que moíam
nos moinhos do Casal de S Tomé ou outros existentes ao longo da Veia Real
(Moinhos do Arraial, Moinhos da Areia, Moinhos da Lagoa, Moinhos do Praina,
Moinhos da Fazendeira…), curso de água que, com origem nos Olhos da Fervença,
encaminhava aquele líquido até ao nosso braço da Ria de Aveiro. Chegados ao
Moinho, descarregavam os sacos (taleigos) com o milho a um canto do moinho, e
voltavam a carregar o carro do boi com os taleigos das pessoas que moravam na
volta que iriam dar no dia seguinte, descontada que estava a maquia, para
pagamento do seu trabalho. E o ritmo diário era sempre o mesmo, alterando
simplesmente os locais de passagem para servir um maior número de interessados.
“Mas
voltemos ao nosso Judeu. A força do vento e os efeitos do tempo que não pára,
vão roibando a resistência aos materiais que corporizam o dito monumento e
fazendo com ele aparente estar velho. Por duas vezes já os seus efeitos se
fizeram sentir fortemente. Da primeira vez, as velas rotas e abandonadas,
foram substituídas e recolocadas e alguns dias houve em que a vida voltou
àquele espaço com o vento que ali se fez sentir sobre elas, mesmo girando em
sentido inverso àquele que deveria girar (calhando união dos baraços á espia e
madeira contrária ao que deveria ser, digo eu, leigo na matéria!). Mais recentemente,
estou em crer que pelos mesmos motivos e com a mesma origem (as forças da
natureza e o tempo que corre…) apareceu partido o eixo, suporte das velas, e
caído junto ao corpo do moinho, qual membro decepado dum corpo indefeso e sem proteção,
ali ficando durante alguns dias até que alguém o retirou e fez transportar para
local onde vai, concerteza, ser recuperado e posteriormente reposto. Aproveitando
a acção contínua e incontida dos elementos da natureza, alguém, mesmo por cima
da fechadura, e dado que a madeira da porta é pouco resistente, abriu um óculo,
para observação do interior do moinho. Chegou a falar-se em utilizar aquele
espaço para efectivar uma exposição fotográfica relacionada com o ciclo do milho,
do trigo, do centeio, da cevada… e tantos outros cereais outrora cultivados nos
terrenos agrícolas que circundam o Seixo, pelas suas gentes … (Enganei-me! o Judeu, foi-se!)
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