quarta-feira, 24 de junho de 2009

Assim se vivia, com muita labuta!

…/… Vindo dos lados do Fojo avisto um vulto, que me parece enorme monstro que se move pois não vislumbro feições de gente naquele todo! A curiosidade aguçasse-me e caminho em sua direcção. Estou na Valeira da Bruxa e agora vejo já um homem carregado com enorme feixe de trancas que apanhou “á socapa” no pinhal do fojo, sem que o Guarda João Ribeirinho, por si guardado, o tivesse avistado. Trata-se do “Ti Zé da Domingas”, homem pequeno de corpo, que regressa com a lenha que apanhou com o seu vareiro, rumo a casa. Entabulo conversa e ele de imediato pousa o carrego que vem sustendo sobre si apoiado num saco de juta ou sisal, daqueles em que eram ensacadas as batatas e que já foram embalagem de cem quilos de amónio, que por outros e muitos costados passaram já. Agora, dobrado ao meio em forma de capuz (capucho como aqui se pronuncia e por que é conhecido) serve de apoio para impedir que as trancas escorreguem nas costas do homem e ao mesmo tempo protege-o de troncos mais afiados que o possam magoar directamente na cabeça e/ou costas. Como conseguem eles, colocar tal carrego, sozinhos, ás costas? Aquilo que me é difícil de compreender, fica muito claro com a descrição e demonstração que “o Ti Zé” se prontifica a fazer e faz: coloca o capucho na cabeça para que o saco, em toda a sua largura, lhe cubra as costas; levanta o feixe de trancas (unidas por corda de sisal bem apertadas) pelas partes mais grossas de forma que quase ficam “a pino”; mantendo-as nessa posição, sem nunca as largar, rodopia o corpo de maneira a ficar de costas para o feixe; dá um último ajuste em termos de levantamento (colocação numa posição mais vertical) com as costas, ajeitando-as, fazendo os possíveis por encaixar a zona lombar entre as trancas e, agachando-se alguma coisa, dá forte impulso na ponta das ditas trancas ficando com elas sobre o saco e costas! Agora é só andar até casa que o carrego pesa...

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