domingo, 25 de julho de 2010

Àgua fresca! Adobes, poços de engenho...

Á mulher que, munida de cantara de barro caneca e prato de esmalte, vendia água nas feiras de Portomar e Mira, carregando-a á cabeça das fontes mais próximas do local da feira: Descanso, Canto de Riba, Meneza, Barrocas, Meio-alqueire, João Toito, Maceira, da Bica, e outras, apelidavam de aguadeira. Vendiam água “á canecada”! Muita gente vai ainda hoje às fontes em causa abastecer-se, embora haja já abastecimento de água canalizada ao domicílio, para consumo em casa. Vestia saia e blusa de chita, cinta preta, lenço de cachené, chapéu de pena, avental de popelina, algibeira para guardar o dinheiro, (sim, porque a água, antes de ser bebida, tinha que ser paga! Tostão cada canecada que ás vezes dava para matar ou amenizar a sede a três e quatro!) calçando chinelo de celeiro. Usava ainda rodilha de trapos para transporte da cantara à cabeça, cantara de barro, prato e caneca de esmalte (o prato para tapar a cantara e a caneca para medir a água). Quando se deslocava para a fonte, lavava a cantara à cabeça, mas deitada e o prato e a caneca na mão. Quando regressava da fonte, rodilha na cabeça, cantara colocada sobre a mesma, prato de esmalte tapando a cantara e caneca de esmalte de fundo ao ar, sobre o prato. Raramente tinha necessidade de colocar a mão à cantara para a equilibrar. A prática era tanta que quase era desnecessária tal atitude. Também foi homem que trabalhava de sol a sol nas “ Olarias “ do Carvalho (pertença do ti Aurélio Redondo, do Ti Arménio Rocha, do Ti João do Carvalho, do Ti Albano do Russo,...) locais onde se faziam os adobes (blocos maciços, feitos de uma mistura de seixos rolados, de tamanhos diferentes (areia grossa e gorda) com cal viva trazida por “ carreiros” (como o Ti Amândio Oliveira, numa junta de bois) do Barracão, local onde existiam os fornos que “ coziam” a dita cal, também denominada de “ cal flor”. Eram usados para a construção da casa Gandaresa, de muros de vedação, de poços (com balseiro ou só com cambota). Existem ainda vestígios dos “ poços” (vulgar e correntemente designados por covas de adobes) donde se extraía a areia em causa, “ à formiga” (Trabalho coordenado, feito quase sempre por homens, era duro, estes posicionavam-se por patamares, um ou dois em cada patamar, com níveis diferentes de altura, quase sempre em linha ascendente, começando aqueles que andavam no fundo da cova ou poço a “pazar” a areia para o patamar mais próximo, que se situava mais perto do fundo e deste patamar outro onde outros homens a passavam para o patamar seguinte, e assim sucessivamente até atingir a superfície. Chegavam a retirar a areia de profundidades da ordem dos seis a oito metros, em poços com diâmetro de cerca de trinta palmos (entre oito a dez metros de diâmetro)!

1 comentário:

  1. Queria parabenizá-lo pelo delicioso trabalho sobre a Gândara. Também sou natural da região da Gândara (Portomar), e foi com enorme prazer que encontrei e li vários artigos deste interessante blog.

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