Tenho razões para ser gandarês : Sou neto da "Ti Manca", do "Ti Zé da Domingas", da "Ti Alzira da Reboca"! Forma simples que encontro para com eles dialogar, fazer com que nunca sejam esquecidos, que os meus filhos, amigos e todos os que a este blog se desloquem, deles se lembrem. Deles e doutras personagens a quem me curvo pela sabedoria, pela forma de vida, pela maneira de estar, pela influência que em mim tiveram, pelo sorriso que ainda ostentam nas imagens que os perpetuam no Campo Sagrado.
sábado, 30 de outubro de 2010
Ao chamamento da Maria,...
...estava tudo e todos a postos. O Manel agarrou na condença e, enfiando-lhe a vara pelas asas colocou-a ao ombro. Por seu lado a Maria, depois de ter posto a rodilha na cabeça, pediu ajuda para lhe colocarem o açafate sobre esta.
Saíram de casa rumo á praia. De caminho passaram por casa do compadre que, com os seus, os aguardava já. Até uma bola e um ringue levavam!
A euforia dos rapazes redobrou quando se encontraram. As cachopas, mais comedidas, como sói que aconteça, também manifestaram interesse no encontro e companhia e, com risinhos dúbios, formaram de imediato um grupo á parte!
Estavam em plena Covadinha! Percorreram o Mato do Seixo e, abandonando o Coroal, rodaram para os Ribeiros para atravessar a Vala Velha na sua parte mais estreita e baixa, onde há um caminho que a atravessa. Apanharam depois o aceiro da florestal por onde seguiram até encontrar a estrada florestal que leva á casa do Guarda Rua. Aqui já se vislumbravam outros grupos rumando na mesma direcção, outras condensas ao ombro ou cabeça, outros açafates, muitos gritos da garotada feliz. Vislumbrava-se também um par algo mais isolado dos restantes: eram namorados que aproveitavam o tempo embora se sentissem continuamente vigiados, quer por qualquer dos que seguia o mesmo rumo, quer pelo olhar atento da mãe da cachopa. Os pais, esses, de passo mais lesto e largo, seguiam já um pouco á frente em amena cavaqueira. Eram já nove horas e faltava ainda um bom esticão!
Perto do entroncamento das estradas, um dos rapazes encepou e quase arrancou a unha do dedo grande do pé.
Aflição geral devido ao sangue que escorria da ponta do dedo!
Chorava que nem um desalmado e marcava o chão com o sangue que escorria da unha. A Maria, mãe atenta e perspicaz, chamou logo o rapaz, despejou uma pouca de água, da jarra que levava debaixo do braço, sobre a unha e, tirando do bolso o lenço das mãos, fez uma carapuça no dedo, cruzou as pontas sobre o pé e foi uni-las com um nó direito mesmo junto ao calcanhar, sobre o tendão de Aquiles. Posto isto, ala que se faz tarde. Tinham já gasto um bom quarto de hora no curativo. Valeu o facto dos restantes elementos terem aproveitado esse tempo para descansar. Mas o caminho a partir dali, iria ser por areia branca, em plena floresta, até á casa do Guarda da Videira.
Estavam já perto da estrada de alcatrão. Já se ouvia, uma vez por outra o ruído dos motores dos carros e pouco depois daria para lobrigar as primeiras casas da praia. Aos poucos, parecia ouvir-se também o ruído das ondas batendo na areia das dunas… Seria um bom sinal?
Em plena mata os cachopos arregalaram-se com as camarneiras carregadinhas que encontraram. Ripavam as camarinhas com destreza e colocavam-nas numa “bonsa” que a mãe lhas havia entregue para o efeito! Eram para ser comidas na areia da praia, todos juntos!
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