sábado, 30 de outubro de 2010

… que rica terra de milho. Graças a Deus.

O suor escorria-lhe pelos rostos ensopando as camisas com mangas arregaçadas. Estavam “verdenegros” mas com a empreitada acabada. Tinham conseguido até aquela hora cortar todo o milho, uma senhora terra, de alto a baixo e antes do sol começar a aquecer a sério. Depois de amanhã, bem cedinho, começariam a carregá-lo nos carros das vacas para casa para junto do abrunheiro grande, próximo da eira, onde depois seria feita a cascadela. Ali sim, ali a alegria do trabalho confundir-se-ia com a alegria de viver. Ali surgiriam conversas, mexericos, cantigas, rebaldeiras, modas de roda e, quiçá, até se concretizariam as tão almejadas namoras. Era uma maneira simples de transformar o trabalho em arraial genuíno! Fá-la-iam no sábado á noite! Mais uma maneira simples de fazer render o tempo! Mais uma vez… tempo trocado! Trocar tempo, … só na Gandara, … feito de Gandareses, … como tantas outras coisas!... …cheios os cestos e poceiros estes eram carregados em braços ou aos ombros pelos rapazes, gente robusta, de tês morena e dura, tisnada pelo sol do estio. As cachopas lá se mantinham nos seus cantos, em redor do monte de milho ali descarregado, cantando, dando á unha, dando nas vistas, mas sempre muito atentas a algum sinal deliberadamente cometido por algum moço, mais audaz, que assim mostrasse interesse numa eventual aproximação. Caso lhe interessasse, ela daria a entender aos vizinhos que estava apertada, que precisava de mais espaço para trabalhar e assim lhe dava a entender que poderia aproximar-se, sentar-se a seu lado a cascar milho e entabulando conversa, inicialmente meio envergonhada e tendo por tema quase sempre o tempo, as culturas, as medas de pasto e carapitas, as cabanas de palha de milho (que naquele tempo eram sinal evidente de riqueza, de muito verão feito, de casa farta!)

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