Tenho razões para ser gandarês : Sou neto da "Ti Manca", do "Ti Zé da Domingas", da "Ti Alzira da Reboca"! Forma simples que encontro para com eles dialogar, fazer com que nunca sejam esquecidos, que os meus filhos, amigos e todos os que a este blog se desloquem, deles se lembrem. Deles e doutras personagens a quem me curvo pela sabedoria, pela forma de vida, pela maneira de estar, pela influência que em mim tiveram, pelo sorriso que ainda ostentam nas imagens que os perpetuam no Campo Sagrado.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
...
O homem tinha ido a salto para a França, logo depois de apanhar as batatas, por alturas do S. João e deixou-a com o filho na primeira classe e com o verão todo por recolher. Mas a necessidade assim os obrigava, para levantar cabelo, tinham que sofrer e saber fazê-lo!
Valeu-lhe alguma coisa o Pai com a sua Junta que sempre lhe fez uns carregos de milho para casa e lhe gradou uns bocados. Agora havia de bastar-se com a sua vaquita, com o rapaz e com os seus braços, saúde e Graça de Deus.
É certinha a carta do seu Manel todas as quintas feiras! Diz-lhe que tudo está a correr bem, que arranjou rtabalho na construção civil e que, embora com mito esforço, está a amealhar uns bons tostões. Que conta, dentro em pouco, mandar um cheque para ela fazer o seu governo, pô-lo no banco a render.
São cartas trocadas que tanto ele como ela escrevem ao domingo á tarde! Ele depois de ir ao mercado comprar sustento para toda a semana e ela, depois de cumpridos os preceitso dominicais: assistir á missa e ao terço!
Pôe o rapaz a fazer os trabalhos de casa da escola e, pegando no bloco de papel de carta, pega na pena e…fala com o seu Manel, colocando no papel tudo o que gostava de dizer-lhe pessoalmente, o que lhe vai na alma! Quer lá saber se alguém lhe apanha a carta e a lê! Não diz mentiras nem fala da vida alheia! Fala de si, do filho, do tempo, das terras, da novidade, etc. Expressa as suas preocupações, os seus anseios, o porte do filho, o gado, a perca que teve que pagar por morte do bezerro do Laurindo. Começa as cartas sempre da mesma forma, aliás, também ele assim faz:
“Cabeças Verdes, 13 de Outubro de 1961
Meu querido Manel, muito estimo que ao receberes estas minhas poucas e mal trilhadas letras te encontres de saúde que eu cá mais o nosso filho ficamos bem Graças a Deus, embora com saudades infinitas.
Recebi a tua carta na passada quinta feira e nela li que…”
Imagine-se o resto da conversa escrita, pois pertence ao foro estritamente pessoal!
Enchiam-lhe a alma e davam-lhe a coragem necessária para enfrentar mais uma semana de trabalho. Trabalho duro! De homem e mulher ao mesmo tempo! Constante! Que nunca está feito, nem por fazer! Rotineiro! Mas tinham saúde! Ela, o homem e o filho!
E, três meses de pois de ter saído, já ele lhe dizia que lhe iria mandar um cheque dentro de pouco tempo!
...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
TAMBÉM SOU DA GANDARA,SOCIEDADE MAIS DEMOCRÁTICA QUE CONHEÇO, MESMO NO TEMPO DA DITADURA, CASAS POUCO DIFERENCIADAS UMAS DAS OUTRAS,A MESMA ARQUITECTURA EXTERIOR E INTERIOR.ORGULHO-ME DE SER DESTA LINDA SUB REGIÃO, ONDE OS NOSSOS ANTEPASSADOS VIVIAM CURVADOS SOBRE A TERRA DE SOL A SOL PARA O SEU SUSTENTO
ResponderEliminar