sábado, 4 de dezembro de 2010

E chegou mesmo naquela quinta feira,

...dentro do envelope que trazia também a carta! Estavam a começar a ficar ricos! Trinta contos de reis! Direitinhos para o banco, pois fazia questão de mostrar ao seu homem que governava a casa sem mexer no seu aforro! Não desperdiçava nem passava faltas muito menos as deixava passar ao filho! Vendo o menino, alegre e feliz, andar rumo ao fim da terra e deixando bem á vista o sulco que fazia com o pé, pegou, não sem dificuldade, na arabessa e, como pode, retirou-a do carro da vaca (neste tinha colocado um fogueiro atravessado, assente sobre os taipais, mas saído para fora destes, permitindo assim que os varais da arabessa se apoiassem no mesmo e estabilizassem a mesma sem que esta caísse e/ou escorregasse para trás) e levou-a para o inicio da terra mesmo ao lado do poço de engenho. Ali a deixou. Dirigiu-se ao carro, desatou o saco do pasto e encheu o regaço do avental com uma quantidade apreciável de pasto, tanto quanto podia segurar com o seu braço esquerdo, pois com o direito iria proceder ao espalhar do mesmo, de maneira tão certinha quanto possível, garantindo assim que não houvesse uns espaços com pasto amontoado e outros sem nada. Ainda ela não tinha chegado junto dos traveses das couves e já o rapaz regressava, contente, ao ponto de partida. Chamando-o, pediu-lhe que fosse ao carro do gado, trouxesse a “bonsa” que estava pendurada num dos fogueiros do taipal e viesse ter com ela. O cachopo anuiu de imediato e pouco depois estava ao alto com ela! _ Filho, vais correr a terra, pelo meio das leiras que fizeste, duma ponta á outra, a espalhar os nabos! Deixa correr muito poucos entre os dedos pois só podes gastar metade do que está na “bonsa”. Não te esqueças: corre muito e deixa cair muito poucos entre os dedos! Animado, o menino cumpriu á risca o que a mãe lhe tinha pedido. Depois sentou-se no carro da vaca á espera que a mãe espalhasse o pasto. Comeu um bocadito de broa com manteiga de porco! Soube-lhe bem! Finda a sua tarefa, a Maria foi ao carro, desatou a soga da vaca dum dos raios da roda, retirou a apiaça da canga do carro e conduziu o animal para dentro dos varais da arabessa. Apeaçou a vaca, passou-lhe a brocha pelo pescoço e entregou a soga ao filho. Foi para o rabo da arabessa e pediu ao filho que guiasse a vaca sempre juntinha á estrema da terra. Um rego para lá, outro para cá! Entre cada rego, ficava uma margem (marja) com cerca de um metro de largura. Dum lado ao outro da terra, no sentido do comprimento, assim andaram cerca de hora e meia, até que deram por terminado o trabalho do animal. Voltou a tirar a vaca da arabessa e a atá-la novamente á roda do carro. Enquanto a Mãe agarrava na enxada para compor os cabeceiros, o rapaz foi ao coival e, apanhando uma folha em cada couveira, fez um “grafado” dos seus e deu-o á vaca que o comeu muito naturalmente. Era muito manso o animal. Nasceu lá no curral e já tinha parido três vezes…

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