segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tempo de margidos...

Mandou que o rapaz guiasse os bois fazendo com que a grade passasse muito próximo da estrema da terra, mesmo juntinho aos marcos. Os dentes da grade, desalinhados, iam arrasando as regadeiras. Desfaziam sistematicamente os valados destas, deixando a terá toda lisinha, mais ou menos direita, sem grandes altos e baixos. Assim a semente ficaria mais uniformemente espalhada. Junto ao poço de engenho abriria depois uns regos, no espaço de mais ou menos três traveses, para ali plantar uns centos de couves altas, garantindo fartura para a panela e para o gado, durante todo o Inverno. Faria os regos sem arrabenhos para que estes ficassem mais fundos e permitissem que fosse posto algum esterco no fundo, mais próximo das raízes das couves que iria comprar na próxima feira dos dezassete, a Calvão… …estão as terras preparadas para receber a semente. As regadeiras foram arrasadas em parte pelos cachopos nas suas tardadas, e pelos bois com a grade de dentes de madeira. Ficou gradada que até parecia um brinco de lisinha. Os cepos dos pés de milho foram quase todos arrancados permitindo que se espalho uniformemente o pasto or toda a terra. ... Já não há milhã para apanhar uns grafados para o gado. Os traveses das couves, plantadas em finais de Agosto, estão todas pegadas, quase a dar fartura de folhas. Foi preciso por a vaca ao engenho algumas vezes, mas valeu a pena. Agora é só esperar que caiam as primeiras chuvas para fazer os margidos!... …Choveu abundantemente durante toda a noite! O pó das terras é que não permitiu que a água entranhasse no terreno, fazendo com que escorresse sobre ele, criando uma ou outra lagoa, mas a terra ainda está seca! Mais valia que a chuva fosse mais miudinha, caísse durante mais tempo, mais lentamente… Agora sim! Depois de ter ido á feira a Portomar comprar uma rasa de cevada, outra de aveia branca (é melhor que a preta porque não espiga tanto nem tão cedo!) um alqueire de centeio etrigo e meio litro de nabos, chegou a casa e caldeou os pastos e voltou a ensacar a mistura que fez. Comprou também uns litros de ervilhaca para fartar mais! Agora tinha a vaca ao carro tendo já a arabessa, com arrabenhos de vime para amargear, carregada no mesmo. Só faltava mesmo carregar o pasto e por-se a caminho, rumo ao fojo. Chegou á terra e pediu ao rapaz, um garoto com oito anos de idade e já a frequentar a segunda classe, que fizesse um rego com o pé, pelo meio da terra, de alto a baixo, sempre em linha direita. Assim facilitava-lhe o trabalho de espalhar certinho o pasto, poupando tempo e dinheiro! Vida dura e triste a sua! ...

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