sábado, 5 de março de 2011

1ª caçada com costelas

… Recorda com bonomia e ar de felicidade o dia em que o pai lhe comprou duas costelas e o ensinou a armá-las. Tinham estado a malhar arroz na eira, arroz que fora cortado nos alagamentos do Chão Velho e estivera estendido na eira durante quatro dias para que o grão se soltasse depois e mais facilmente durante a malha. Era um domingo de manhã, por volta das nove horas. Tinham chegado da primeira missa e, depois de tomar o café, o pai chamou-o. Acorreu de imediato. Os rolhaças na eira eram às centenas. Tenho aqui duas costelas para ires apanhar pardais! Disse-lhe o pai. Vem que vou ensinar-te a armá-las. E dirigiram-se de imediato para a eira fazendo com que uma nuvem escuras se elevasse no ar e, num chilrear medonho, fosse pousar logo ali nos ramos do abrunheiro e da nespereira existentes junto ao poço da bomba. Deu-lhe uma costela e ficou com outra nas mãos pedindo-lhe que o imitasse no que fazia. Ainda recorda as gargalhadas do pai e a aflição da mãe que acorreu ao grito do filho: tinha trilhado um dedo na costela! Seguras assim, puxas esta parte para aqui, passas este arame por este buraco do fio onde está amarrado o bicho e, vês,…está armada a costela! Vês? A minha não me trilhou! Agora é só ousá-la com mito jeitinho e fazer um monte de areia com uma face inclinada para a eira, sitio donde os rolhaças vão aparecer. Lá voltou a agarrar a costela e a fazer o que e como o pai mandou. Estava realmente armada a costela! Mas os suores frios que suportou, nem ao pai os contou! Aflitinho e a tremer com medo de se trilhar outra vez, viu-as pardas quando enterrou os arames da costela no montículo da areia! Estava sempre á espera de sentir novo aperto num dos dedos! Mas nada aconteceu! A costela foi por si armada pela primeira vez! Teve o cuidado de tocar no bicho com uma agulha para ver se ele se mexia! Agora vamos afastar-nos daqui para fora e ver o que se vai passar. O coração palpitava de tal forma que quase não lhe cabia no peito! Mal tinham chegado á porta da cozinha, local onde a mãe se encontrava e já ela lhe dizia que os pardais estavam a levantar lá dos ramos das árvores e a esvoaçar em bando para a eira. Quase de imediato, ouviu-se um tinir seco. Alguns pardais levantaram e voltaram a pousar na eira, mas um deles debatia-se com os arames a apertarem-lhe o pescoço. Tanto se debateu, tanto bateu asas e fez saltar a costela que ficou parado no chão. Estava calçado o seu primeiro rolhaça! Corre Lei! Vai lá filho! E o miúdo correu até á eira e veio quase de imediato com a costela na mão e o pardal …

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