
Tenho razões para ser gandarês : Sou neto da "Ti Manca", do "Ti Zé da Domingas", da "Ti Alzira da Reboca"! Forma simples que encontro para com eles dialogar, fazer com que nunca sejam esquecidos, que os meus filhos, amigos e todos os que a este blog se desloquem, deles se lembrem. Deles e doutras personagens a quem me curvo pela sabedoria, pela forma de vida, pela maneira de estar, pela influência que em mim tiveram, pelo sorriso que ainda ostentam nas imagens que os perpetuam no Campo Sagrado.
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Logo que o Ti Júlio soube...
Vês este espaço todo até ao fundo do quintal?
Pois acredita que as esteiras iam daqui, da porta da cozinha, até lá ao fundo. Muito juntas, pareciam mesmo uma mesa sem pernas!
Eram mais de cem pessoas e isto durou em todas as refeições, enquanto não foi levado daqui.
É lindo recordar o respeito e devoção que nutriam uns pelos outros e a maneira simples e sentida que tinham do o manifestar!
Sentados no chão, em cima das esteiras, formando duas filas, sempre pela beira daquelas, pois no meio era estendida uma toalha e sobre esta colocada a comida. Em cada esteira, grupo de pessoas, normalmente todos da família, havia uma bacia de caldeirada de batatas com bacalhau, uma terrina com filhoses, um garrafão com parreirol, broa e pão. Ah, havia também uma caneca enfiada, de cu para o ar, no gargalo do garrafão e… muito, muito sentimento de pesar. Falava-se o mínimo indispensável e só se começava a comer depois de um dos membros da família, dos mais chegados ao finado, passar a fazer a cortesia de… provar alguma coisa do que é meu!
Foram três dias de muita aflição, pouco descanso e muitas manifestações de solidariedade. Alserva, eu sabia que tinha muitos amigos, mas só senti a sua presença constante afectiva e efectiva, a sua palavra amiga durante todo o tempo em que o meu pai ali esteve e até que o levaram para o Campo Sagrado.
Olha que ainda hoje me arrepio todo só de me lembrar da maneira como as pessoas vivam os acontecimentos do dia-a-dia. Logo que o Ti Júlio soube, não foi p’rá Igreja sem passar lá por casa. Depois sim, de hora a hora, fazia dobrar o sino grande e puxava, cadenciada, a corda que se encontrava amarada ao badalo do sino pequeno, aquele se está na torre, dos lados do Sul. Dava assim a conhecer a dor que afligia aquela família. Quando descia da torre, tinha já um grupo de pessoas para o inquirir acerca da identidade do tinha ido!
Batia os sinais simples ou dobrados, anunciando assim o sexo da pessoa! Dlim… dlão… dlim… dlão… dlim… dlão.. dlim! … durante alguns minutos e depois, seis ou nove pancadas secas com o badalo do sino grande, anunciando de era do Seixo se das cabeças verdes.
Toda a terra e redondezas sabiam o que se estava a passar ao ouvir os sinos tocar daquela maneira. Se acontecia ser uma criança (e se eram muitas as que não imperiam, naquele tempo!) os sinos repicavam! Era um anginho que Deus chamava a si!
Ainda hoje este costume se realiza, mas menos vezes por dia. Olha que eram, pelo menos, dois dias que o toque dos sinos se fazia ouvir, de hora a hora, logo após as Avé-Marias e até pouco antes das Trindades.
Toda a gente tirava tempo para acompanhar os amigos nesta última viagem.
E a nossa Irmandade se era grande! Agora, só se junta toda (os do Seixo e os das Cabeças Verdes) em caso de Procissões, nas festas, mas já sem opas. Nos funerais todos se equipavam a rigor, pois assim ordenavam os Estatutos. E irmão que faltasse ou não vestisse a opa, identificativo de pertença e presença, era punido pelo facto! Cada um tinha a sua! Eram duas filas longas de homens, seguindo as bandeiras, distintivos da Irmandade, a Cruz e depois a carreta com a sua carga. Atrás desta seguiam os familiares directos e as mulheres. Naquele tempo, só os homens formavam em duas alas.
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