
Tenho razões para ser gandarês : Sou neto da "Ti Manca", do "Ti Zé da Domingas", da "Ti Alzira da Reboca"! Forma simples que encontro para com eles dialogar, fazer com que nunca sejam esquecidos, que os meus filhos, amigos e todos os que a este blog se desloquem, deles se lembrem. Deles e doutras personagens a quem me curvo pela sabedoria, pela forma de vida, pela maneira de estar, pela influência que em mim tiveram, pelo sorriso que ainda ostentam nas imagens que os perpetuam no Campo Sagrado.
sábado, 2 de julho de 2011
...tudo se pode fazer menos concretizar actos que os possam vir a magoar.
Casou por amor, amor forte e verdadeiro que o unia á cachopa que o levou ao altar. Da vida ouviam falar, mas, verdadeiramente, pouco trilho tinham dela. Não que lhe metesse medo o trabalho, não que tivessem o bastante para fazer face aos primeiros tempo de vida em comum. Ansiavam estar juntos e respirar o ar sob o mesmo tecto. Nenhum deles tinha curso acabado, profissão escolhida… ansiavam por i
sso!
Mas casaram. Casaram e de imediato se apartaram dos progenitores.
Sem fonte segura e firme de rendimentos aceitaram ficar com uma bezerra cheia, á primeira barriga, no curral. Ela já tinha algum carro, embora o cachaço fosse pouco. Seria o seu principio de vida em comum. Terras para trabalhar, não lhe faltavam. Saúde também não, mas o treino… Ele iria fazendo uns dias como servente de pedreiro na construção civil. Ela ficaria pelas lides da casa e com o amanho das terras…
Mas eis que surge o primeiro senão. Com oito dias de casados (ainda nem sabiam o que na verdade era dormir juntos!), ele é forçado a imigrar para a famigerada tropa. Apresentou-se como soldado, com a nota de refractário, por ter faltado á incorporação anterior. Esse facto valeu-lhe o não lhe terem contado nem reconhecido as habilitações literárias que possuía. Soldado num primeiro quartel, a quarenta quilómetros de casa! A revolta a fermentar no seu íntimo. Três semanas depois, é chamado ao Chefe da Unidade para lhe ser comunicado que, atendendo ás habilitações literárias, que não lhe eram reconhecidas, iriam ser transferido para outra unidade do Exército e outra especialidade. Deixava de usar a boina castanha e passava a usar a boina preta! Este facto atirou-o para Lisboa aumentando a distância da amada e da casa, ninho de amor.
Mas não iria ficar por aqui!
Dois dias depois de se ter apresentado na nova Unidade, é transferido para Sta Margarida, aquartelamento militar a Sul do Tejo, mundo á parte deste mundo.
Mais longe e com menos possibilidade de transporte.
Ali chegado é encaminhado para um pelotão de homens comandado por um alentejano de sete costados. Íntegro e fero. O primeiro Catapirra, de quem guarda gratas recordações. Feita e recruta e especialidade, ruma a Coimbra onde permanece durante um ano e termina assim o cumprimento do Serviço Militar Obrigatório.
Mas voltemos á sua descrição, lar e projectos. Sonhava ter filhos. E tiveram. Todos muitos espaçados. Trabalhando ambos, foram amealhando uns tostões, suados, e quatro anos depois, já tinham erguido a sua casita. Aquele sim, iria ser o seu tecto. Ali criaram os filhos. Ali lhe desenharam o futuro e os incentivaram a trilhar caminho rumo a objectivos, concretizáveis, e bem definidos. Dois rapazes e duas cachopas!
Que felizes se sentiram quando viram três deles encaminhados. Dois melhor que o terceiro (no seu pensar!) e o mais novo com indícios de francamente vir a vencer obstáculos e ultrapassar barreiras da e na aquisição de conhecimentos. Elas, mais seguras e firmes, …
Naquele dia, quando a Maria regressou do trabalho, ele só lhe disse, muito rapidamente, quase ciciando, para que o mais novo não ouvisse, “ sinto-me mal…Tenho algo dentro de mim que me impele a chorar! Trago aqui (e apontou o coração!) um aperto que me vem afligindo desde a manhã” e calou-se…
Pouco depois tomou de novo a palavra para dizer que ia com o João ao campo, queria espairecer… ao que ela retorquiu: na verdade não estava nos nossos planos isto que nos está a acontecer. Nunca pusemos sequer esta hipótese. Mais calmamente, confessou que lhe estava a acontecer o mesmo! Mas são nossos… Ele ouviu, pegou na gorra e saiu acompanhado do mais novo… adorava as filhas mas… agirem daquela maneira, era tirar-lhe anos de vida. Que raio, bem podiam assumir e dizer aos pais que era aquele o rumo que queriam para as suas vidas…
Com esta idade, ama os filhos de forma louca, quase doentia. Não consegue pensar em desaires com qualqeur deles nem vê-los tristes, pelo canto… Antes partir ele que estar no mundo a vê-los sofrer. Sempre lhes disse que tudo se pode fazer menos concretizar actos que os possam vir a magoar. Mas, são todos maiores e ele já está velho… já andou… e amanhã, se calhar, já cá não está…
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