sexta-feira, 15 de julho de 2011

...não aceitar cada dia que nasce!

… Repetir factos e feitos é.. limitar-se! É impor condições á mente e recusar a livre progressão de capacidades! É temer o que há-de vir! É não querer arriscar no desconhecido. É não aceitar cada dia que nasce! Saiu de casa rumo ao Palhal. No carro da vaca levava o foicinho, enfiado num dos buracos dos fogueiros do taipal, as cordas de feixe, a enchada, um saco de buano, o regador e o buaneiro. As terras naquela zona eram muito férteis, mas, por serem muito baixas e frescas, criavam também muita erva que, caso não fosse apanhada no momento certo, cobria toda a ceara fazendo-a definhar e era certo e sabido que nada se iria criar. Esta a razão que a levava aquela terra que cultivava e tinha herdado da mãe. Semeou-lhe ali um bom aboboral. Trouxe durante duas tardes gente a andar de fora a cavar a releixo e a semear o dito terreno. Bem estercada, nasceram todas as sementes que havia lançado á terra em cada cova. Era nassairo agora desvastá-las, adubar as que ficassem, dar-lhe uma injecçãozita, livrá-las das ervas que quase as escondiam e voltar a aconchegar a terra ao pé. Avizinhava-se um trabalho, lento e moroso, quase de fazer de joelhos pra poipar os rinzes. A primeira coisa que fez logo depois de tirar a vaca do carro e de a ter amarrado a um raio da roda com uma corda comprida para que pastasse naquele alagamento á volta, foi agarrar a enchada e abrir dois poços na extrema um no início e outro no meio da terra para poipar tempo no encher do regador e transporte da água prá injecção. Deu depois início ao lento desvastar e arrancar das ervas, com as mãos, junto aos pés das aboboras, deixando todo o espaço em redor, cerca de meio metro, limpo de ervas. Arrancava uma, duas plantas em cada cova, as que achava serem mais enfezadas e guardava-as, resguardadas do sol, para, casio aoarecesse alguma cova com plantas mais farquitas, voltar a dispô-las nesse sítio. Entre cova e cova, roçava as ervas com a enchada, voltando as enxadadas com as raízes para cima e folhas para baixo, impondo assim que secassem. Algum tempo depois, apareceu-lha a irmã que tinha ido apanhar uns feixes de azevém na sua baixeira a pedir-lhe que os levasse para casa no carro. Irmanou-se com ela no trabalho e, falando da vida mas sem nunca levantar a cabeça ou as costas, lá andaram uma desvastando e arrancando ervas e outra roçando as ervas entre covas, até chegarem ao fim da terra. Depois, agarrou no buaneiro e a irmã no regador. Enquanto uma ia depositando uma pitada de buano junto aos pés das obóboras, a outra ia-lhe depositando tanta água quanta a cobixa podia levar, derretendo o buano depositado. Ouviram o meio-dia na torre e deram ordem a por a vaca ao carro para ir á baixeira carregar os feixes, carregaram os trastes e rumaram a casa para tratar do jantar. Outro dia teria que ali voltar para tapar as covas da injecção e aconchegar a terra aos pés das abóboras… …

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