sábado, 24 de setembro de 2011

Ditos mais ou menos apimentados ...

… ia a noite adiantada e as espigas amontoavam-se na eira. A palha, em gabelas muito ugadas, fazia um monte considerável junto aos paus da cabana. De repente, a filha da Cacilda pula de contente, aperta as mãos contra o peito e arrebata as atenções. Tinha estado de conversa com o Manel da Irma que, boquiaberto, nem se apercebeu do que estava a acontecer. A Dosanjos segurava, com enorme alegria, uma espiga de milho vermelho e dava inicio a uma rodada de abraços a todos quantos se encontravam em redor do monte de milho. Ditos mais ou menos apimentados iam suando quando ela chegava e os rapazes engoliam em seco e davam uma olhadela rápida e fugidia , para saber onde estava a Cacilda. Alguns deixavam cair os braços e limitavam-se a receber o aperto dado pela cachopa, sentindo bem mais forte o olhar penetrante da mãe da cachopa do que o abraço da rapariga. Até que chegou a vez do Manel da Irma! Comprometido, o rapaz nem sabia onde podia e devia por as mãos nem desviava o olhar do sítio onde se encontrava a mãe da cachopa que, sentindo-se assim alservada, desviou a cabeça e olhar e agarrou ela mesma a cestada de espigas que tinha ao seu lado e rumou para a eira. Sorriu-se o Manel e aguardou ansioso que chegasse a cachopa dos seus sonhos, isso mesmo, a Dosanjos para a estreitar nos seus braços, parecendo-lhe que com o conluio da Irma. Caia-lhe um fieiro de baba pelo queixo e ele nem se apercebia do facto! Pareceram-lhe uma eternidade os segundos que mediaram até ao aparecimento da cachopa junto de si, no lugar onde encontrou a espiga de milho vermelho! A Irma levou o cesto mas, logo que saiu das vistas do geral, pousou-o e desviou-se para um sítio donde podia alservar o que se estava a passar, sem ser vista e ali ficou até que a filha acabasse a rodada de abraços e se voltasse a sentar. Ora, nem tudo correu como a Irma queria, nem tãopouco como o Manel desejava. Á Irma, os rapazes do serão, que não tinham cachopa, roubaram-lhe o cesto e esconderam-lho. Ao Manel, que não conseguia controlar as batidas do coração…

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