
Tenho razões para ser gandarês : Sou neto da "Ti Manca", do "Ti Zé da Domingas", da "Ti Alzira da Reboca"! Forma simples que encontro para com eles dialogar, fazer com que nunca sejam esquecidos, que os meus filhos, amigos e todos os que a este blog se desloquem, deles se lembrem. Deles e doutras personagens a quem me curvo pela sabedoria, pela forma de vida, pela maneira de estar, pela influência que em mim tiveram, pelo sorriso que ainda ostentam nas imagens que os perpetuam no Campo Sagrado.
terça-feira, 4 de outubro de 2011
...pelas latadas dos Quintais ...
Era já noite fechada e era grande, ainda, a azáfama na estrumeira junto ao poço.
Pipas, dornas, balseiro, carros de bois e vaca, cestos e poceiros, enchiam por completo aquele espaço onde labutava o Manel e os filhos, todos em calções, mangas dos camisotes arregaçadas até ao cotovelo.
Os cestos e poceiros estavam já lavados e encaixados uns nos outros á espera de serem colocados no arrecabém dos carros, depois de carregados dorna e balseiro.
As vasilhas, lavadas como convém, aguardavam silenciosas a desinfecção que lhes iria ser feita com água fervida com folhas de laranjeira (para arrancar o ranço!) e depois de bem escorridas, serem colocadas sobre as traves, na adega, onde aguardariam serem cheias com o precioso líquido, vinho novo, fruto do pisar das uvas que iriam ser apanhadas amanhã.
Pediu ao seu compadre que lhe fosse esfregar o lagar e pôr-lhe a rolha de forma conveniente (rolha bem vedada por dentro e torneira por fora!) para que não se desperdiçasse nem um pingo do tão apreciado néctar. Mandou ao filho mais velho que trouxesse o carro dos bois para junto do balseiro e o empinasse com o arrecabém, mesmo junto ás aduelas que une a madeira, na base deste. Entretanto o filho mais novo, tombou a dita vasilha puxando-a para si de modo a levantar ligeiramente a base da mesma e permitindo que o estrado do carro entrasse pela sua base. Neste ponto, veio o Pai ajudar, forçando o balseiro para cima enquanto o filho mais velho, pendurado no toiço do carro, fazia com que este baixasse, elevasse o arrecabém e ficasse carregado o balseiro. O mesmo fizeram com o carro da vaca e carregaram a dorna.
Centraram então as ditas vasilhas no estrado das carroças, colocaram os fogueiros no sítio e jungiram-nos com uns adebais.
Agora era só acabar de dar o chá aos pipos, escorrê-los, carregá-los e colocá-los no lugar certo na adega. O lagar também estava pronto. Agora já podiam ir prá cozinha, lavar os pés na celha, cear e, voltas dadas, cair na enxerga para um merecido descanso e recobro de forças já que forte dia de azáfama estava á porta.
Dariam inicio á vindima na vinha do Coroal, iriam depois ás do Chão Velho e finalmente daria a volta pelas latadas dos Quintais de Dentro.
Era já certa a presença do compadre Joaquim que, atendendo á sua experiência, ficar a tomar conta dos trabalhos no lagar, ajudado pelo filho mais velho e futuro genro (estava já de casamento feito com a Zulmira!). Ali descarregariam os cachos do balseiro e dorna para o lagar e procederiam ao esmagar dos mesmos, calcando demoradamente e amassando os bagos soltos. Era gente com calo e garante de trabalho bem feito, como aliás tem vindo a ser feito nos últimos anos…
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