quarta-feira, 19 de outubro de 2011

...um balseiro repleto de cachos...

A vindima fazia-se nos primeiros dias de Outubro. Naquele período de tempo que fazia ainda lembrar o Estio e a que chamavam o Verão de S. Martinho. A criançada, convidada por natureza para acompanhar seus pais, fazia do acto uma festa e um tirar a barriga de misérias no que tocava a comer cachos, aparecia á mesma hora que estes, de cara lavada e roupas algo mais limpas. Era raro ralharem com eles nesse dia! Habituados a não mexer em nada, era certo e sabido que ás cepas com uvas por apanhar, não se mexia: Eram do patrão que com elas iria fazer uma boa pinga. Só depois de as pessoas, que andavam a apanhar os cachos, por lá passarem é que as crianças percorriam aturada e minuciosamente todo e cada pé de videira, observando as cepas desde o pé até ao final de cada vara, andavam ao rabusco, para ver se havia uma ou outra esgalha para deitar a mão e comer sem que ninguém lhes chamasse a atenção. Aos adultos não restava outra hipótese se não deixar deliberadamente uma cacheirita para trás para alegrar a pequenada. Mas tudo sem que o patrão notasse, até porque a mulher andava por ali, de cabaz numa mão e faca na outra. Depenicava aqui, depenicava ali e cortava os cachos, brancos, que achava mais doces e douradinhos, para levar para casa e guardar depois para por na mesa quando os filhos e/ou convidados aparecerem. Mas era certo que andava sempre de olho nas pessoas e na garotada! Na noite anterior e porque se constava já que iriam vindimar, era costume, e assim se fez, o homem passou largas horas lá pela vinha, deitado debaixo duma cepa e de um canto para o outro, sempre alerta não fosse o diabo tecê-las e acontecer-lhe o que aconteceu já a tantos outros: ficar sem mais de metade dos cachos! Mas voltemos á vinha do Carvalho onde reina a alegria e donde saíram já um balseiro repleto de cachos e a dorna está já mais de meia…

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