
Tenho razões para ser gandarês : Sou neto da "Ti Manca", do "Ti Zé da Domingas", da "Ti Alzira da Reboca"! Forma simples que encontro para com eles dialogar, fazer com que nunca sejam esquecidos, que os meus filhos, amigos e todos os que a este blog se desloquem, deles se lembrem. Deles e doutras personagens a quem me curvo pela sabedoria, pela forma de vida, pela maneira de estar, pela influência que em mim tiveram, pelo sorriso que ainda ostentam nas imagens que os perpetuam no Campo Sagrado.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
...depenicava nas cacheiras mais ensolaradas, mais loirinhas...
A vindima fazia-se nos primeiros dias de Outubro. Naquele período de tempo que fazia ainda lembrar o verão, a que chamavam de S. Martinho, e que permitia ainda que se secassem os últimos grãos de milho e restantes cereais mais tardios.
A criançada, convidada por natureza para acompanhar seus pais, aparecia á mesma hora que estes, de cara e roupa algo mais lavados. Ninguém lhes ralhava nesse dia!
Educados e habituados a não mexer em nada, era certo e sabido que aos cachos pendurados em cepas que ainda ninguém tinha mexido, ninguém tocava! Eram do patrão que com elas iria fazer uma boa pinga.
Só depois das pessoas que andavam a apanhar os cachos por lá passarem, é que as crianças observavam, aturada e minuciosamente, todo e cada pé de videira, percorrendo com os olhos cada cepa, desde o pé até ao final de todas e cada vara, andavam ao rabusco, procurando uma ou outra esgalhita para comer sem que ninguém lhes chamasse a atenção pelo facto.
Aos adultos não restava outra hipótese se não deixar, deliberadamente, uma ou outra cacheirita para trás para animar e alegrar a pequenada. Mas tudo sem que o patrão, homem que normalmente andava com os bois a carregar os cachos para o lagar, notasse andando sua mulher pela vinha, de cabaz num dos braços e faca na mão. Ia provando um vago aqui, outro ali, depenicava nas cacheiras mais ensolaradas, mais loirinhas, para descobrir as mais doces e assim colher uma cabazada para levar para casa. Andava, ela sim, sempre de olho nas gentes e garotos.
Na noite anterior, tinha o seu Manel andado parte dela, para baixo e para cima, ora quedando-se sentado debaixo duma cepa, ora percorrendo caminhos sombrios que davam á vinha, garantindo assim que, por se saber que iria vindimar no dia seguinte, lhe não fossem aos cachos, como habitualmente acontecia com outros (e também já lhe tinha acontecido a ele!)
Mas, voltemos á vinha do Carvalho, onde reina a alegria e donde saíram já um balseiro e uma dorna cheios de uvas…
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